(No meio do caminho tinha uma rosa...)
CORRIDINHO
O amor quer abraçar e não pode.
A multidão em volta,
com seus olhos cediços,
põe caco de vidro no muro
para o amor desistir.
O amor usa o correio,
o correio trapaceia,
a carta não chega,
o amor fica sem saber se é ou não é.
O amor pega o cavalo,
desembarca do trem,
chega na porta cansado
de tanto caminhar a pé.
Fala a palavra açucena,
pede água, bebe café,
dorme na sua presença,
chupa bala de hortelã.
Tudo manha, truque, engenho:
é descuidar, o amor te pega,
te come, te molha todo.
Mas água o amor não é.
Adélia Prado
Adélia Prado é perfeita em prosa ou poesia. Este poema, em especial, vi lá no perfil do Facebook do meu amigo Eurípedes Alvarenga Barbosa, que faz poesia também e é inspiradíssimo.
Ganhei um carinho:
EU: "Posso levar o poema lá para o blog?"
EURÍPEDES: "Pois leve, Adélia vai se sentir em casa - seu blog tem tamanho infinito mas acolhe como se fosse ninho pra ovo, filhote e ave..."
Obrigada, Eurípedes!!! Boas palavras são um carinho na alma.
Que horas são?
sábado, 17 de dezembro de 2011
(Nem a Vida tem a nitidez necessária...)
"É urgente que eu entre,
Tudo o demais são amenidades.
Subir juntos à nascente
das águas; cobrir-se mútuos
de vários silêncios, um tapume
de frutas do esquecimento,
alheios à colheita, aos ciclos,
deixa-nos no átrio. O nascimento
não abre para o dentro. A morte
não é a porta do retirar-se
ao miúdo. Progredir em sombras
até fenestrar a luz não fende
o casulo. O amor não exaure
os degraus. A barca da solidão
não alcança a outra margem.
Desprender-se de si mesmo
não atravessa o umbral.
Entranhar-se ainda é fora.
Ensimesmar-se é apenas umbigo
da entrância do não conter-se.
Vem antes do início e transborda
o acabamento de um pergaminho
enrolado ou uma gema sepulta.
Vinhedo e vinhador, o dentro
é intransponível e urge que eu entre."
MARIA CARPI - poema nº 60 do livro AS SOMBRAS DA VINHA
"É urgente que eu entre,
Tudo o demais são amenidades.
Cerrar-me em casa, em livro,
em amor, em recipientes,
desabotoar o vestido não é entrar.
Estar em corpo não é entrar.
Jazer em saudades, póstumo,
não empurra para dentro.
Coeso em pele não é entrar
Dividir a solidão, amantes
sob um teto sonoro de chuvas.Jazer em saudades, póstumo,
não empurra para dentro.
Coeso em pele não é entrar
Dividir a solidão, amantes
Subir juntos à nascente
das águas; cobrir-se mútuos
de vários silêncios, um tapume
de frutas do esquecimento,
alheios à colheita, aos ciclos,
deixa-nos no átrio. O nascimento
não abre para o dentro. A morte
não é a porta do retirar-se
ao miúdo. Progredir em sombras
até fenestrar a luz não fende
o casulo. O amor não exaure
os degraus. A barca da solidão
não alcança a outra margem.
Desprender-se de si mesmo
não atravessa o umbral.
Entranhar-se ainda é fora.
Ensimesmar-se é apenas umbigo
da entrância do não conter-se.
Vem antes do início e transborda
o acabamento de um pergaminho
enrolado ou uma gema sepulta.
Vinhedo e vinhador, o dentro
é intransponível e urge que eu entre."
MARIA CARPI - poema nº 60 do livro AS SOMBRAS DA VINHA
quarta-feira, 14 de dezembro de 2011
Carlos Eduardo Leal é psicanalista e escritor. Escreve com as letras da delicadeza e da sensibilidade...Sabe pontuar os poemas e dar voz às emoções. Aquarela os dias de quem, de alguma forma, convive com ele.
TEUS OLHOS
Acolho teus olhos ainda úmidos em minhas mãos.
Sei que estás em mim.
Também sei que perdi meus olhos em ti.
Tantas nuvens impediram-me de ver teu rosto
Iluminado / Transparente / Lírico.
Depois veio o vento
Rigoroso
E teus cabelos voaram
E tua voz secou diante do céu
Em chamas.
Ainda na cama dos sonhos
A lembrança das tintas
Quadros em movimentos
Cores enfeixadas na paixão.
Um minuto /
Pedi.
Um longo silêncio /
Ouvi.
Era um sim?
Um não?
Talvez.
Teus olhos /
Quis segurá-los
Mas era minha a cegueira
Azul profundo / Abissal oceano.
Teus olhos a dizer /
Lágrimas que nunca vi
Meus olhos a arder /
Ausências de ti.
Acolho teus olhos ainda úmidos em minhas mãos.
terça-feira, 13 de dezembro de 2011
O Azul e o Tempo
Oswaldo Montenegro
Nada pra se acreditar
Mas o tempo não manchou o azul
Nada pra se acreditar
Mas o vento baila o mar azul
Nada pra se acreditar
Mas tá tudo azul
Nada pra se acreditar
Mas a fé tingiu o azul de anil
Nada pra se acreditar
Mas os santos rezam pro Brasil
Nada pra se acreditar
Mas você já viu
Tudo que vai rebrilhar
Tudo que vai renascer
Tudo que vai nos salvar
Sem que a gente espere
Canta pra comemorar
Grita pra amanhecer
Solta o choro da alegria
Que a paz adere
Pra se acreditar
Que o tempo não manchou o azul
Pra se acreditar
Que o vento baila o mar azul
Pra se acreditar
Que tá tudo azul
Mas o tempo não manchou o azul
Nada pra se acreditar
Mas o vento baila o mar azul
Nada pra se acreditar
Mas tá tudo azul
Nada pra se acreditar
Mas a fé tingiu o azul de anil
Nada pra se acreditar
Mas os santos rezam pro Brasil
Nada pra se acreditar
Mas você já viu
Tudo que vai rebrilhar
Tudo que vai renascer
Tudo que vai nos salvar
Sem que a gente espere
Canta pra comemorar
Grita pra amanhecer
Solta o choro da alegria
Que a paz adere
Pra se acreditar
Que o tempo não manchou o azul
Pra se acreditar
Que o vento baila o mar azul
Pra se acreditar
Que tá tudo azul
Oswaldo e Madalena viveram uma relação amorosa que, em determinado momento terminou, e o amor seguiu o caminho que deveria ser natural, transformou - se em amizade forte e com laços indestrutíveis. Lealdade e amorosidade.
Ouvir o depoimento emocionante de Madalena sobre a origem desta música é uma lição que enche o coração de energia. Por que há momentos na Vida em que tudo parece perdido, um túnel sem fim e mal iluminado; e só o que precisamos é de um abraço, uma palavra e um ouvido atento.
Ela diz "Sei que tendo alguém como Oswaldo na minha vida, pode vir o que for do lado de lá, que terá jeito!"
Uma segurança afetiva absoluta herdada de uma relação que deu os melhores frutos.
Ele diz: "A música foi um carinho na dor que Mada estava passando."
Amor na potência 100!! Tão delicado, tão generoso, tão desprendido! Coisas que só um bom amor proporciona.
"Oswaldo é o Azul e o Tempo na minha vida!" (Madalena Salles)
Simples assim...
(árvores da Praça da Alfândega em Porto Alegre -nov/2011)
"É tão difícil falar e dizer coisas que não podem ser ditas. É tão silencioso. Como traduzir o silêncio do encontro real entre nós dois? Dificílimo contar. Olhei pra você fixamente por instantes. Tais momentos são meu segredo. Houve o que se chama de comunhão perfeita. Eu chamo isto de estado agudo de felicidade".
Clarice Lispector
Encanto e êxtase...
Estive pensando sobre os presentes que ganhamos da Vida e, por vezes, nem agradecemos.
Talvez porque o ano esteja chegando ao fim e é uma época propícia para fazer um balanço do que temos vivido, ou porque simplesmente estas epifanias acontecem conosco, em qualquer período do ano...
Talvez porque o ano esteja chegando ao fim e é uma época propícia para fazer um balanço do que temos vivido, ou porque simplesmente estas epifanias acontecem conosco, em qualquer período do ano...
O LUAN é um destes belos e generosos presentes que recebi da Vida. Nos relacionamentos ganhamos filhos e netos emprestados. LUAN é meu neto "emprestado", segundo ele, e sempre será. Ele é um menino que soube me conquistar. É lindo, inquieto, inteligente e sedutor. Quando passou uma semana na minha casa, por vezes eu chamava sua atenção para calçar os chinelos, o que ele sempre esquecia, claro! Então ele me olha e diz: "Se eu te der um beijo, tu me perdoa?" Como não perdoar?? Impossível!
Vou publicar aqui minha galeria de fotos dos quatro netos "emprestados" que ganhei um dia. Todos eles são especiais pra mim e, independente de qualquer coisa sempre serão os meus netos, também. Infelizmente, pela rotina de todos, convivemos pouco, mas nos encontramos nas datas comemorativas, falamos ao telefone, e sei que faço parte da vida deles.
LUAN é assim, meigo e carinhoso, capaz de telefonar toda a semana para dizer que sentiu saudade de mim e contar as descobertas da vida escolar.
Mais do que um presente, um prêmio que a vida me concedeu.
Que eu faça jus a este prêmio, e reconheça no olhar dele o milagre da VIDA que nem sempre pede vínculos para amar.
segunda-feira, 12 de dezembro de 2011
Alice Urbim escreveu sobre a primavera em Porto Alegre, lá no Facebook:
"Porto
Alegre está coberta de flores. Tapetes vermelhos, amarelos.....Passear
no Parcão em uma manhã de domingo é um dos prazeres da vida. Volto pra
casa coberta de sol e flores."
Ela fala com poesia sobre as ruas da nossa cidade...estão lindas, coloridas, decoradas pela natureza.
E basta olhar para cima que o espetáculo continua, é um festival de cores que para descrever, é preciso fotografar.
Sempre fotografo estas cenas pela necessidade que tenho de querer eternizar momentos. Belezas e cenas únicas para o deleite do nosso olhar. Sublime Natureza! Generosa Natureza!
Quando sair à rua, amanhã, volta teu olhar para esta galeria de arte que são as ruas da cidade. Estas obras ficam em exposição só até o fim da Primavera...
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