Que horas são?

quinta-feira, 3 de julho de 2014









Corazón de Cristal

Jorge Drexler


"Corazón de cristal,
que no he visto dos veces
brillar de la misma manera..

Corazón fugaz,
por tu cuerpo y tu mente
la luna pasea y pasea..

Tanto, tanto, tanto amar..
Tanto, tanto, tanto amar,
lastima,
a veces lastima.
Por la misma senda que el amor abrió,
la pena camina.

¿Dónde vas ? Quédate junto a mí,
corazón tempestad,
corazón desmesura.

No soy más que un eterno aprendiz,
que si no está contigo
se ahoga en su propia cordura.

Tanto, tanto, tanto andar..
Tanto, tanto andar sin un destino..
Tanto desatino...
Pero el tiempo pasa
y el dolor también te enseña el camino..

Corazón de cristal.
Corazón de quimera.
Corazón de cristal.
Corazón de quimera."





segunda-feira, 30 de junho de 2014

SEPARAÇÕES LÍQUIDAS








"Casar virou namorar, namorar virou ficar, ficar virou provar.

Acredito que todo mundo casa fácil porque é também muito fácil se separar.

Nos anos 70, o casamento era medido por décadas. Mesmo quando um casamento fracassava, durava no mínimo duas décadas.

Nos anos 80, o casamento era medido por anos. Mesmo quando um casamento desmoronava, durava no mínimo cinco anos.

O casamento hoje é por dia. Como se fosse hotel.

Agora, o matrimônio cobra diária. Todo dia é dia de se separar. E por qualquer coisa.

Las Vegas do divórcio é aqui.

Você pode sair de manhã, eufórico e confiante, extremamente disposto, seguro do romance, e quando voltar à noite não encontrar mais ninguém ao seu lado.

Se cometeu uma falha, nem terá oportunidade de se explicar. Se não errou, nem terá chance de entender e desfazer confusões.

É tão simples se divorciar que ninguém mais pretende se estressar. Não há nem o civilizado e educado aviso de despejo. É dar as costas, largar o passado e seguir adiante. Quebrou o amor, troca! Quebrou o amor, compra outro! Quebrou o amor, não vale investir consertando!

Os casais não brigam mais até cansar para, então, se separar. Não brigam mais até esgotar as possibilidades para, então, se separar. Não tentam durante semanas e semanas expor as dores, as feridas e a raiva para, então, se separar. Não recorrem ao choro, à histeria, ao perdão, ao abraço, ao exorcismo, aos centros religiosos, aos amigos, aos parentes para, então, se separar.

A separação vem antes. A separação é a regra. A separação é o hábito. A separação é seca, definitiva, sem explicações.

As pessoas se separam primeiro para depois discutir. As pessoas se separam primeiro para depois conversar. As pessoas se separam primeiro para depois desabafar o que incomoda.

Elas arrumam todas as malas, esvaziam os armários, realizam a limpa no apartamento e depois, se houver vontade, se encontram e sentam frente a frente para resolver as diferenças.

São uniões interrompidas com silenciadores, distante de estampidos e gritos.

Ninguém se separa de fato, todo mundo deserta, todo mundo abandona a convivência.

É uma irresponsabilidade extraordinária com o outro, é uma indiferença tremenda ao que foi construído com o outro, é um desprezo ao que foi sonhado a dois.

E os motivos podem ser os mais loucos e insignificantes. O desenlace não ocorre mais por justificativas duras como adultério e deslealdade.

Há gente que se separa por incompatibilidade de gênios (expressão que denuncia megalomania, o correto seria incompatibilidade de burros).

Há gente que se separa porque não suporta o medo de ser traído.

Há gente que se separa porque estava muito feliz e não aguentava tamanha pressão.

Há gente que se separa porque se viu entregue ao relacionamento e estava perdendo a identidade.

Há gente que se separa porque não sabia mais o que estava fazendo da vida.

Há gente que se separa porque não esperava que fosse assim.

Atualmente entra-se numa relação e não se fecha a porta – a porta permanece encostada o tempo inteiro."




Fabrício Carpinejar


Publicado no jornal Zero Hora
Revista Donna, p.6
Porto Alegre (RS), 29/6/2014 Edição N° 17844