Que horas são?

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

                            (colagem minha...Amor -perfeito!)
"O imprevisto acontece e alguém te encontra.
E te reencontra. 
Te reinventa.
Te reencanta. 
Te recomeça."


Li este pensamento - poema, gostei, me identifiquei e postei aqui no blog. Inconformada por não saber quem era o autor, fui buscar informações e fiquei muito feliz em saber que  GABITO NUNES é gaúcho e escreve coisas lindas sobre os caminhos e atalhos dos relacionamentos.
"Grudada na parede frontal da minha memória tem uma fotografia daquele seu conhecido sorriso de chegada." 



"Além de escritor, Gabito Nunes é um homem que gosta de discutir a relação, veja só. Nascido em Porto Alegre/RS, publicitário de origem, trocou a abortiva rotina de dono de agência pra se dedicar exclusivamente à tarefa de redator. De uma outra separação, esta afetiva, criou na internet seu próprio ensaio literário. Em pouco tempo se impôs como um dos cronistas de maior empatia da web, conquistando milhares de leitores, mulheres em suma. Transpirado e inspirado na escola gaúcha de escritores notórios, cresceu absorvendo nomes como Luis Fernando Verissimo, Caio Fernando Abreu, Carpinejar e Claudia Tajes. Flerta intimamente com a linguagem arrojada de Jack Karouac, Nick Hornby, John Fante e Alain de Botton. Seu site movimenta cerca de 50 mil visitas ao mês."




Há algum tempo vi esta foto em uma revista e fiquei profundamente impactada com a força da imagem. Cheia de significados! Busquei mais informações e soube que fazia parte de uma série de fotografias de Phillip Toledano.

Phillip Toledano, fotógrafo, nasceu em Londres de uma mãe marroquina francesa e um pai norte-americano. Em 2006 sua mãe morreu e ele se viu às voltas com os cuidados com o pai de noventa e sete anos que tinha sérios problemas de memória recente, ainda que não tivesse diagnóstico de Alzheimer, não retinha as informações. Apesar de reiteradas vezes contar ao pai do falecimento da mãe e de tê-lo levado ao funeral, ele voltava a fazer as mesmas perguntas. Decidiu, então, dizer que a mãe fora para Paris cuidar do irmão.

A partir daí, o que temos, é um relato emocionante dos dias de convivência com seu pai. Toledano e sua mulher cuidaram dele até a sua morte. Reaprendeu a relação com o pai, descobriu nuances de sua personalidade que nunca tinha notado, viu ali um homem engraçado, inteligente. Em algum momento perguntou se ele sabia que idade tinha, e o pai respondeu; "Vinte e dois e meio?". Intimidade que se revelou como aprendizado pra quem pouco conviveu com o pai nos últimos dez anos.

Busco aprendizado nas coisas, nos fatos, nas leituras e, esta história, em especial, me fez refletir muito sobre as relações entre pais e filhos.
Como temos tratado nossos pais? Como nossos filhos nos tratam? Como será quando, velhinhos precisarmos de atenção, carinho e muito cuidado? Teremos dispensado tudo isto aos nossos pais? E falo de CUIDADO, não só de presentes e presenças obrigatórias nas datas. Refiro-me à respeito, compreensão com as limitações que o tempo impõe, lembrar da importância deles nas nossas vidas como início de tudo. Ter paciência com os ritmos que destoam dos nossos, reconhecê-los como origem de tudo o que recebemos. Ver em seus olhos, o espelho de nossas vidas e do nosso futuro.

Na intimidade com nossos filhos, temos ensinado isto a eles?  Acredito no valor absoluto do respeito como gerador de boas relações. Educar é carpintaria diária. Pede esforço, atenção, dedicação e cuidado. Os mesmos verbos que queremos que eles conjuguem quando a velhice nos encontrar.
 
Não falo de cobranças, de apresentar contas altíssimas aos filhos, que, certamente, nunca conseguirão pagar. Quem não conhece alguém que passa a vida dizendo ao filho: "Não fiz faculdade, porque engravidei de ti!" ou "Não me separei porque tinha filhos e fui infeliz!". Absurdamente cruel, afinal como pagar uma conta assim? E a  única herança que fica, neste caso, é uma culpa enorme, pesada e devastadora.
 
Refiro-me aqui à plantação. Boas sementes, cultivo diário, adubação, olhar generoso e amor sem medida. Quem sabe assim, daqui a alguns anos, colheremos bons frutos: presença amiga, amorosidade, abraços que protegem, mãos que nos conduzam, cuidados e overdoses de amor.

O pai de Phillip Toledano faleceu aos noventa e nove anos sob o olhar emocionado do filho e da nora. 
Phillip usou a fotografia para falar dos últimos tempos do pai, mas vê-se ali um relato sobre si mesmo. Ampararam-se os dois nas suas fragilidades.

Que possamos fortalecer os vínculos com nossos pais e nossos filhos, pra que só os bons frutos germinem. Plantar é fácil, cultivar exige...





 






quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Affonso Romano de Sant‘Anna falando sobre a mulher madura...E preciso concordar com ele, na maturidade é que encontramos os atalhos para a felicidade.. Bom é aceitar a passagem do tempo e encontrar beleza nela. Sei que meu corpo e meu rosto hoje têm uma história, rugas de quem sorriu e chorou, barriga que já abrigou um filho, a pessoa mais importante do mundo, seios de quem o amamentou por três anos e alma de quem se dispõe a aprender todo o dia, para não envelhecer.








“O rosto da mulher madura entrou na moldura de meus olhos...
Há uma serenidade nos seus gestos, longe dos desperdícios da adolescência, quando se esbanjam pernas, braços e bocas ruidosamente. A adolescente não sabe ainda os limites de seu corpo e vai florescendo estabanada. É como um nadador principiante, faz muito barulho, joga muita água para os lados. Enfim, desborda.

A mulher madura nada no tempo e flui com a serenidade de um peixe. O silêncio em torno de seus gestos tem algo do repouso da garça sobre o lago. Seu olhar sobre os objetos não é de gula ou de concupiscência. Seus olhos não violam as coisas, mas as envolvem ternamente. Sabem a distância entre seu corpo e o mundo.

A mulher madura é assim: tem algo de orquídea que brota exclusiva de um tronco, inteira. Não é um canteiro de margaridas jovens tagarelando nas manhãs.

A adolescente, com o brilho de seus cabelos, com essa irradiação que vem dos dentes e dos olhos, nos extasia. Mas a mulher madura tem um som de adágio em suas formas. E até no gozo ela soa com a profundidade de um violoncelo e a sutileza de um oboé sobre a campina do leito.

A boca da mulher madura tem uma indizível sabedoria. Ela chorou na madrugada e abriu-se em opaco espanto. Ela conheceu a traição e ela mesma saiu sozinha para se deixar invadir pela dimensão de outros corpos. Por isto as suas mãos são líricas no drama e repõem no seu corpo um aprendizado da macia paina de setembro e abril.

O corpo da mulher madura é um corpo que já tem história. Inscrições se fizeram em sua superfície. Seu corpo não é como na adolescência uma pura e agreste possibilidade. Ela conhece seus mecanismos, apalpa suas mensagens, decodifica as ameaças numa intimidade respeitosa...“

(Affonso Romano de Sant‘Anna)

segunda-feira, 7 de novembro de 2011


           CARLOS   EDUARDO   LEAL




Conheci Carlos Eduardo Leal lá no Facebook. Psicanalista, escritor,poeta dos mais sensíveis. Conhecedor de almas e pensamentos encanta pela maneira delicada com que descreve os sentimentos.
Tenho a honra de tê-lo entre meus seguidores aqui no blog e para apresentá-lo a quem ainda, por ventura, não o conheça, trouxe este texto-poesia lá do seu espaço 
Um blog escrito com sensibilidade e lucidez.
 

"Há um ódio que não estanca,
Há um amor que não desanuvia,
Há uma queimação que desassossega,
Há um frio que não abraça.
Porém, de tudo o que a antiga musa canta, vida é o que não há. E o nome luso-brasileiro para isto é saudade. Saudade não estanca, não desanuvia, não sossega e não abraça. Tenho saudades de mim. Tenho saudades de mim contigo. Tenho saudades a fazer litoral para minhas ondas. Tenho saudades cá nesta região, neste sítio do meu corpo que só tu conheces e, por conheceres tão bem, inaugura-me já com teus beijos."

(Ainda lendo com sotaque português)

Carlos Eduardo Leal



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