Que horas são?

sábado, 7 de setembro de 2013

(na casa da minha mãe)





MÁ CONSCIÊNCIA


"O adjectivo
dá-me de comer.
Se não fora ele
o que houvera de ser?

Vivo de acrescentar às coisas
o que elas não são.
Mas é por cálculo,
não por ilusão."



(Alexandre O'Neill, in "Poesias Completas"/ Assírio & Alvim)



quinta-feira, 5 de setembro de 2013




"E logo que anoiteceu seus olhos se entreabriram. Oh, um pouco, muito pouco. Era como se quisesse olhar, escondida atrás dos longos cílios.
Todos que a velavam debruçaram-se então, na chama dos altos círios, para observar a limpeza e a transparência daquela faixa de pupila que a morte não tinha conseguido embaçar. Respeitosamente maravilhados, inclinavam-se sem saber que Ela os observava.
Porque Ela via e sentia."



María Luisa Bombal - A Amortalhada - Cosacnaify, p. 69. 2013.



"Uma maravilha de livro que recomendo, entusiasticamente!"

Carlos Eduardo Leal (meu amigo, psicanalista, escritor, artista plástico e poeta, desde que nasceu)


quarta-feira, 4 de setembro de 2013



Explicação da Eternidade

"devagar, o tempo transforma tudo em tempo. 
o ódio transforma-se em tempo, o amor 
transforma-se em tempo, a dor transforma-se 
em tempo. 

os assuntos que julgámos mais profundos, 
mais impossíveis, mais permanentes e imutáveis, 
transformam-se devagar em tempo. 

por si só, o tempo não é nada. 
a idade de nada é nada. 
a eternidade não existe. 
no entanto, a eternidade existe. 

os instantes dos teus olhos parados sobre mim eram eternos. 
os instantes do teu sorriso eram eternos. 
os instantes do teu corpo de luz eram eternos. 

foste eterna até ao fim. 


José Luís Peixoto, in "A Casa, A Escuridão"


(maio/2013, no Instituto Estadual do Livro)

Tião Carvalho




Até a Lua


Composição: Ana Maria Carvalho


"eu já falei com os olhos
que te amo e você não ouviu
eu já falei com as mãos
que te quero e você não sentiu
eu já fui até a lua
pra tentar te convencer
e acabei
conquistando a lua
só não conquistei você
eu já fui até a lua
pra tentar te convencer
e acabei
namorando a lua
só não namorei você."




Sobre Ana Maria Carvalho (link)





QUE ME CONTINUA


Arnaldo Antunes / Edgard Scandurra


"Se ando cheio, me dilua.
Se estou no meio, conclua.
Se perco o freio, me obstrua.
Se me arruinei, reconstrua.

Se sou um fruto, me roa.
Se viro um muro, me rua.
Se te machuco, me doa.
Se sou futuro, evolua.

Você que me continua.
Você que me continua.
Você que me continua.

Se eu não crescer, me destrua.
Se eu obcecar, me distraia.
Se me ganhar, distribua.
Se me perder, subtraia.

Se estou no céu, me abençoe.
Se eu sou seu, me possua.
Se dou um duro, me sue.
Se sou tão puro, polua.

Você que me continua.
Você que me continua.
Você que me continua.

Se sou voraz, me sacie.
Se for demais, atenue.
Se fico atrás, assobie.
Se estou em paz, tumultue.

Se eu agonio, me alivie.
Se me entedio, me dê rua.
Se te bloqueio, desvie.
Se dou recheio, usufrua.

Você que me continua.
Você que me continua.
Você que me continua.

Você que me continua.
Você que me continua.
Você que me continua.

Você que me continua.
Você que me continua.
Você que me continua."







Lançamento do livro "Frederico e outras histórias de afeto", do médico Gilberto Schwartsmann, ontem à noite, na livraria Saraiva, do Moinhos Shopping.
Um evento que foi prestigiado por muitas pessoas, entre colegas, pacientes e amigos. Não fosse o fato de o livro ter-se esgotado, na livraria, teria sido uma noite impecável. A gerência contornou a situação, possibilitando a entrega, em casa, em outra data, do livro, devidamente, autografado. O que gerou frustração nas pessoas que foram prestigiá-lo, carinhosamente. 
Recortei alguns momentos para compartilhar. 





                         


                                                   
















                           

                Sobre o livro (link)

Sobre o autor:


"Gilberto Schwartsmann é médico, professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), membro da Academia Nacional de Medicina e da Academia Sul-Rio-Grandense de Medicina. 

Especializou-se em Oncologia no Royal Marsden Hospital e Middlesex Hospital em Londres, Grã-Bretanha. Recebeu seu PhD pela Universidade Livre de Amsterdã, Países Baixos. Completou seu Pós-Doutorado em Oncologia no National Cancer Institute, Bethesda, EUA. Presidiu a Central de Novas Drogas da Organização Europeia para Pesquisa e Tratamento do Câncer (EORTC). 

Chefia o Serviço de Oncologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre. É professor-orientador do Curso de Pós-Graduação em Medicina e Ciências Médicas da UFRGS. 

Possui um número expressivo de publicações científicas e citações internacionais. Tem o reconhecimento como inventor em duas patentes internacionais de novos medicamentos. Pertence ao corpo docente da Sociedade Europeia de Oncologia Médica. Integra a Associação Americana de Oncologia Clínica. Preside a Fundação Sul-Americana para o Desenvolvimento de Novas Drogas Anti-Câncer (SOAD) e o Conselho Fiscal do Instituto do Câncer Infantil do Rio Grande do Sul (ICI).

É Doutor Honoris Causa pela USAL, Buenos Aires, Argentina. É consultorad hocda Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ). 


Nasceu em 18 de agosto de 1955 na cidade de Passo Fundo, no Rio Grande do Sul, Brasil."

[Do site da Libretos Editora: Libretos]



terça-feira, 3 de setembro de 2013










Nidhi Chanani é uma ilustradora freelance e artista. Nascida em Calcutá, foi criada no subúrbio da Califórnia. Atualmente, ela desenha e sonha em San Francisco.


Nidhi Chanani

Nem O Sol, Nem A Lua, Nem Eu







                       


"Hoje eu encontrei a Lua
Antes dela me encontrar
Me lancei pelas estrelas
E brilhei no seu lugar
Derramei minha saudade
E a cidade se acendeu
Por descuido ou por maldade
Você não apareceu

Hoje eu acordei o dia 
Antes dele te acordar
Fui a luz da estrela-guia
Pra poder te iluminar
Derramei minha saudade
E a cidade escureceu
Desabei na tempestade
Por um beijo seu

Nem a Lua, nem o Sol, nem Eu
Quem podia imaginar 
Que o amor fosse um delirio seu
E o meu fosse acreditar

Hoje o Sol não quis o dia 
Nem a noite o luar."


                      [Lenine e Dudu Falcão]





                           





"Eu sei que atrás deste universo de aparências, 
das diferenças todas, 
a esperança é preservada. 

Nas xícaras sujas de ontem 
o café de cada manhã é servido. 
Mas existe uma palavra que não suporto ouvir, 
e dela não me conformo. 

Eu acredito em tudo, 
mas eu quero você agora. 

Eu te amo pelas tuas faltas, 
pelo teu corpo marcado, 
pelas tuas cicatrizes, 
pelas tuas loucuras todas, minha vida. 

Eu amo as tuas mãos, 
mesmo que por causa delas 
eu não saiba o que fazer das minhas. 

Amo teu jogo triste. 

As tuas roupas sujas 
é aqui em casa que eu lavo. 

Eu amo a tua alegria. 

Mesmo fora de si, 
eu te amo pela tua essência. 
Até pelo que você poderia ter sido, 
se a maré das circunstâncias 
não tivesse te banhado 
nas águas do equívoco. 

Eu te amo nas horas infernais 
e na vida sem tempo, quando, 
sozinha, bordo mais uma toalha 
de fim de semana. 

Eu te amo pelas crianças e futuras rugas. 

Eu te amo pelas tuas ilusões perdidas 
e pelos teus sonhos inúteis. 

Amo teu sistema de vida e morte. 

Eu te amo pelo que se repete 
e que nunca é igual. 

Eu te amo pelas tuas entradas, 
saídas e bandeiras. 

Eu te amo desde os teus pés 
até o que te escapa. 

Eu te amo de alma para alma. 
E mais que as palavras, 
ainda que seja através delas 
que eu me defenda, 
quando digo que te amo 
mais que o silêncio dos momentos difíceis, 
quando o próprio amor 
vacila."

*** Este segundo vídeo da música de Lenine, apresenta Bethânia declamando um poema de amor intenso. Infelizmente, não consegui identificar o autor, são muitos créditos diferentes. Se alguém souber, gostaria de referenciar, corretamente. Agradeço a gentileza.

                        










segunda-feira, 2 de setembro de 2013

                           



RECEITA PARA LAVAR PALAVRA SUJA



"Mergulhar a palavra suja em água sanitária.
depois de dois dias de molho, quarar ao sol do meio dia.
Algumas palavras quando alvejadas ao sol
adquirem consistência de certeza. Por exemplo a palavra vida.

Existem outras, e a palavra amor é uma delas,
que são muito encardidas pelo uso, o que recomenda esfregar e bater insistentemente na pedra, depois enxaguar em água corrente.

São poucas as que resistem a esses cuidados, mas existem aquelas.
Dizem que limão e sal tira sujeira difícil, mas nada.
Toda tentativa de lavar a piedade foi sempre em vão.

Agora nunca vi palavra tão suja como perda.
Perda e morte na medida em que são alvejadas
soltam um líquido corrosivo, que atende pelo nome de amargura,que é capaz de esvaziar o vigor da língua.

O aconselhado nesse caso é mantê-las sempre de molho
em um amaciante de boa qualidade. Agora, se o que você quer é somente aliviar as palavras do uso diário, pode usar simplesmente sabão em pó e máquina de lavar.

O perigo neste caso é misturar palavras que mancham
no contato umas com as outras. 
Culpa, por exemplo, a culpa mancha tudo que encontra e deve ser sempre alvejada sozinha.

Outra mistura pouco aconselhada é amizade e desejo, já que desejo, sendo uma palavra intensa, quase agressiva, pode, o que não é inevitável, esgarçar a força delicada da palavra amizade.

Já a palavra força cai bem em qualquer mistura.
Outro cuidado importante é não lavar demais as palavras
sob o risco de perderem o sentido.

A sujeirinha cotidiana, quando não é excessiva,
produz uma oleosidade que dá vigor aos sons.

Muito importante na arte de lavar palavras
é saber reconhecer uma palavra limpa.

Conviva com a palavra durante alguns dias.
Deixe que se misture em seus gestos, que passeie
pela expressão dos seus sentidos. À noite, permita que se deite, não a seu lado mas sobre seu corpo.

Enquanto você dorme, a palavra, plantada em sua carne,
prolifera em toda sua possibilidade.

Se puder suportar essa convivência até não mais
perceber a presença dela, então você tem uma palavra limpa.

Uma palavra LIMPA é uma palavra possível."



Viviane Mose é psicóloga e psicanalista, mestra e doutora em filosofia pelo Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro e poeta, das melhores.



Viviane Mose


domingo, 1 de setembro de 2013

Casulo de Tristeza

                   
body painting by veruschka for

playboy, 1971



  Casulo de Tristeza 
(clique, aqui, para ler o artigo completo)



"(...)Quando perdemos um ser querido, certamente é hora de voltar para dentro. No luto, a morte espalha seu absurdo sobre cada detalhe da vida. Cada gesto, cada fato, cada idéia alardeiam ausência. Se conseguimos invocar uma presença hipotética daquele que partiu, supondo o que diria, do que gostaria, o que faria em tal ou qual situação, seu caráter imaginário de fantasma acaba se revelando e a tristeza nos engole. O mesmo ocorre com outros tipos de perda: o desemprego, uma separação amorosa, o exílio, só para citar alguns. São longos períodos de dor, nos quais continuamos nos surpreendendo com a falta da pessoa, do lugar, da ocupação. O trabalho do luto, ou seja, da tristeza, consiste em acreditar, aos poucos e a contragosto, no insuportável e incompreensível. A tristeza é senhora, desde que o samba é samba é assim, como diz Caetano, e emenda: tudo demorando em ser tão ruim.(...)"


Diana Corso




Diana Lichtenstein Corso

Diana Lichtenstein Corso é Psicanalista Membro da APPOA (Associação Psicanalítica de Porto Alegre). Formada em psicologia pela UFRGS, trabalhou com crianças e no campo dos problemas de desenvolvimento infantil junto ao Centro Lydia Coriat de Porto Alegre e em várias outras instituições. Atualmente atende jovens e adultos. É colunista desde 2001 do Segundo Caderno, suplemento cultural do jornal Zero Hora, da Revista Vida Simples, além de participações em várias antologias e revistas. Publicou o livro Fadas no Divã: psicanálise nas histórias infantis, em 2005, e Psicanálise na Terra do Nunca: ensaios sobre a fantasia, em 2010, ambos pela Ed. Artmed, escritos em parceria com seu marido Mário Corso.



                                 By Brittany Esther


Nada mais erótico do que as mãos tocando o corpo como notas musicais. 
Vibrato!



"O termo vibrato, utilizado no italiano e no francês - ou segundo Fürstenau (1844), 
Bebung, no alemão - foi empregado para traduzir palavras como “ondulação”, “onda” ou 
“tremor” na tentativa de caracterizar a percepção da mudança ondulatória de afinação, timbre."

(extraído da tese de mestrado de Jessica Dalsant)

[DALSANT, Jessica. Avaliação de duas ferramentas para a representação das variáveis 
acústicas implicadas no vibrato da flauta. Dissertação apresentada à Escola de Música da 
Universidade Federal de Minas Gerais apara a obtenção do título de Mestre em Música.]