Que horas são?

sábado, 9 de março de 2013

                (vez em quando chove, aqui...)





"No meu crânio vazio
a aranha mole tece o fino fio.

Sonolenta, pinga a gota lenta:
mo
no
to
ni
a"




                            (Ribeiro Couto)






ORAÇÃO




                 











                                           



"Não mexe comigo que eu não ando só
eu não ando só, que eu não ando só
não mexe não

Eu tenho zumbi, besouro o chefe dos tupis
Sou tupinambá, tenho erês, caboclo boiadeiro
Mãos de cura, morubichabas, cocares, arco-íris
Zarabatanas, curarês, flechas e altares.
A velocidade da luz no escuro da mata escura
O breu o silêncio a espera. eu tenho Jesus,
Maria e José, todos os pajés em minha companhia
O Menino Deus brinca e dorme nos meus sonhos
O poeta me contou

Não mexe comigo que eu não ando só
Eu não ando só, que eu não ando só
Não mexe não

Não misturo, não me dobro a Rainha do Mar
Anda de mãos dadas comigo, me ensina o baile
das ondas e canta, canta, canta pra mim, é do
ouro de Oxum que é feita a armadura guarda o
meu corpo, garante meu sangue minha garganta
O veneno do mal não acha passagem e em meu
Coração maria acende sua luz, e me aponta o
Caminho.
Me sumo no vento, cavalgo no raio de Iansã,
giro o mundo, viro, reviro tô no recôncavo
tô em face, vôo entre as estrelas, brinco de
ser uma, traço o Cruzeiro do Sul, com a tocha
da fogueira de João Menino, rezo com as três
Marias, vou além, me recolho no esplendor das
Nebulosas descanso nos vales, montanhas, durmo
na forja de Ogum, mergulho no calor da lava
dos vulcões, corpo vivo de XANGÔ

Não ando no breu nem ando na treva
Não ando no breu nem ando na treva
É por onde eu vou que o santo me leva
É por onde eu vou que o santo me leva

Medo não me alcança, no deserto me acho, faço
cobra morder o rabo, escorpião vira pirilampo
meus pés recebem bálsamos, unguento suave das
mãos de Maria, irmã de Marta e Lázaro, no
Oásis de Bethânia.
Pensou que eu ando só, atente ao tempo não
começa nem termina, é nunca é sempre, é tempo
De reparar na balança de nobre cobre que o rei
equilibra, fulmina o injusto, deixa nua a justiça

Eu não provo do teu fel, eu não piso no teu chão
E pra onde você for não leva o meu nome não
E pra onde você for não leva o meu nome não

Onde vai valente? você secou, seus olhos insones
secaram, não vêem brotar a relva que cresce livre
e verde, longe da tua cegueira. Seus ouvidos se
fecharam à qualquer música, qualquer som, nem o
Bem nem o mal pensam em ti, ninguém te escolhe
você pisa na terra mas não sente apenas pisa,
Apenas vaga sobre o planeta, já nem ouve as
teclas do teu piano, você está tão mirrado que
nem o diabo te ambiciona, não tem alma, você é
O oco, do oco, do oco, do sem fim do mundo.

O que é teu já tá guardado
não sou eu que vou lhe dar,
não sou eu que vou lhe dar,
não sou eu que vou lhe dar

Eu posso engolir você só pra cuspir depois,
minha forma é matéria que você não alcança
desde o leite do peito de minha mãe, até o sem
fim dos versos, versos, versos, que brota do
poeta em toda poesia sob a luz da lua que deita
na palma da inspiração de Caymmi, se choro, quando
choro e minha lágrima cai é pra regar o capim que
alimenta a vida, chorando eu refaço as nascentes
que você secou.
Se desejo o meu desejo faz subir marés de sal e
sortilégio, vivo de cara pra o vento na chuva e
quero me molhar. O terço de Fátima e o cordão de
Gandhi, cruzam o meu peito.
Sou como a haste fina que qualquer brisa verga,
mas, nenhuma espada corta

Não mexe comigo que eu não ando só
Eu não ando só, que eu não ando só
Não mexe comigo"




[(Paulo César Pinheiro) Textos de Maria Bethânia]






Li, agora há pouco, o que o Fabrício Carpinejar escreveu sobre o fim do seu relacionamento com a Alessandra Siedschlag, e decidi trazer para ilustrar tudo o que penso a respeito dos fins. Há muito venho dizendo: até os fins precisam ser dignos, para que possamos honrar os dias felizes. A crônica/carta é um altar aos bons sentimentos.


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"Alessandra - Lele Siedschlag gosta de jasmim, eu gosto de cravos, nossa paixão era magnólia.

Maravilhosa magnólia, maliciosa magnólia, essa lâmpada de sombra, esse fóssil de flor, animal aéreo e pré-histórico de pétalas, que surgiu antes da cor, antes do olfato, antes do amor. 

Foram quatro meses de namoro onde seus olhos verdes acentuaram o sol de pátio de meus olhos.

Nossa despedida é amizade. 

Repetiria todo momento que passei com ela. O cheiro dos momentos. 

Alessandra tem caráter. Nunca conheci alguém com tanto caráter.

E caráter não é rigor, mas sinceridade. 

E caráter não é rosto sério, mas riso solto. 

E caráter não é privação, mas gentileza. 

Caráter não muda como a opinião, como o desejo, não segue a fome, não se diminui com a carência. 

E é lindo ter caráter. E é sensual ter caráter. Caráter é amar antes mesmo das palavras.

O caráter gerou as palavras. 

— nossa música "E se poi", de Malika Ayane:"


[Fabrício Carpinejar]





             
        Para inspirar novos vôos...




          





"O curta The Me Bird é uma livre interpretação do poema homônimo de Pablo Neruda. A inspiração na técnica strata stencil ajuda a conceituar a repetição de camadas como o passado de nossos movimentos e ações. As molduras como jaula e o passado como fardo servem de pano de fundo para a história de uma bailarina em sua jornada rumo à liberdade. Através de variada experimentação artística, recria-se a tormenta que conecta pássaro e dançarina. "



Lá do 18bis.tv.  
Link 









A MARIA TERESA OBJETOS DECORATIVOS completa oito anos neste mês. Para comemorar traz a artista plástica Fátima Annes e sua exposição REFERÊNCIAS.

Na próxima terça-feira, dia doze de março, a partir das 18h 30m, Maria Teresa recebe amigos e clientes na loja em celebração a mais um aniversário.
Oito anos de encantamento atendimento impecável e boas amizades.
 






sexta-feira, 8 de março de 2013





"Você sabe, Pedro Bloch, nunca se pode fazer lista das melhores coisas da vida. A razão é simples: se elas chegam de repente ... falta preparo; se as prevemos... fica sendo cópia. Eu acho que todas as coisas acontecem como se estivessem preparadas antes. A sorte é grande lei da vida e a sorte deve ter suas leis. O mundo é algo plástico. A fé criadora. Não é fé acreditar-se num sistema. Só vemos pedacinhos, fragmentos de uma coisa sempre maior. O momento feliz, já reparou?, não é o que ocorre naquele instante. Está sempre associado a outros lugares e outros tempos. É violino querendo ser orquestra. Só as coisas boas são completas."


“E, o que era que eu queria? Ah, acho que não queria mesmo nada, de tanto que eu queria só tudo.”


(Guimarães Rosa)



quinta-feira, 7 de março de 2013


Adriana Calcanhoto e Eugénia Melo e Castro:

                  

              



BEM QUERER


Eugénia Melo e Castro


"Quando o meu bem querer me vir
Estou certa que há de vir atrás
Há de me seguir por todos
Todos, todos, todos os umbrais.

E quando o seu bem querer mentir
Que não vai haver adeus jamais
Há de responder com juras
Juras, juras, juras imorais.

E quando o meu bem querer sentir
Que o amor é coisa tão fugaz
Há de me abraçar com a garra
A garra, a garra, a garra dos mortais.

E quando o seu bem querer pedir
Pra você ficar um pouco mais
Há que me afagar com a calma
A calma, a calma, a calma dos casais.


E quando o meu bem querer ouvir
O meu coração bater demais
Há de me rasgar com a fúria
A fúria, a fúria, a fúria assim dos animais.


E quando o seu bem querer dormir
Tome conta que ele sonhe em paz
Como alguém que lhe apagasse a luz
Vedasse a porta e abrisse o gás."

       



FUTUROS AMANTES


                       Chico Buarque




"Não se afobe, não
Que nada é pra já 
O amor não tem pressa
Ele pode esperar em silêncio
Num fundo de armário
Na posta-restante 
Milênios, milênios
No ar.

E quem sabe, então
O Rio será
Alguma cidade submersa
Os escafandristas virão
Explorar sua casa
Seu quarto, suas coisas
Sua alma, desvãos.

Sábios em vão
Tentarão decifrar 
O eco de antigas palavras
Fragmentos de cartas, poemas
Mentiras, retratos
Vestígios de estranha civilização.

Não se afobe, não 
Que nada é pra já 
Amores serão sempre amáveis
Futuros amantes, quiçá 
Se amarão sem saber 
Com o amor que eu um dia
Deixei pra você."










Meu amigo Luciano Goularte é uma pessoa rara, encantadoramente rara. Tem personalidade forte e o sorriso mais doce que eu conheço. É dono de um talento invejável, sabe tudo da profissão que escolheu, estudioso, dedicado e determinado.
Cuida do meu cabelo há anos, e, de uma certa forma, cuida de mim, também, porque sempre saio de lá melhor do que cheguei. Atende a todos com o mesmo cuidado. É um homem de simplicidades, de olho no olho, de palavras diretas. Elegante no trato, elegante na Vida.
E tem um filho lindo que o fez ainda mais inspirador.
Dia dez de março é o aniversário do Luciano, pensei em trazê-lo para o blog para falar do meu carinho, admiração e amizade e desejar que a Vida continue sendo generosa com ele.

"Onde há um amor intenso, há uma família."





(Shere Hite, sexóloga, pesquisadora e escritora americana.)


quarta-feira, 6 de março de 2013






QUANDO  O  LUAR


"Quando o luar caiu e 
tingiu de escuro os verdes da ilha 
cheguei, mas tu já não eras. 

Cheguei quando as sombras revelavam 
os murmúrios do teu corpo 
e não eras. 
Cheguei para despojar de limites o teu nome. 
Não eras. 

As nuvens estão densas de ti 
sustentam a tua ausência 
recusam o ocaso do teu corpo 
mas não és."



(Conceição Lima -  poeta são-tomense natural de Santana da ilha de São Tomé, São Tomé e Príncipe.)






terça-feira, 5 de março de 2013






Les mots et les choses


(Hélio Pellegrino)


Entre lâmina e lâmina,
entre a lâmina da palavra e o fio
da lâmina cortante, corre um fio
de ausência tão instante, que em meu nada
me fio, e ao seu vazio me confio,
para fiar - vida a fio -, por ausentes,
as coisas que, tramadas desta ausência,
são lâminas cortantes - e presentes
.

domingo, 3 de março de 2013




                     "(...)Todos os dias
                     Antes de dormir
                     Lembro e esqueço
                     Como foi o dia..."














"(...)risque outro fósforo, outra vida, outra luz, outra cor. (...)



                        (Da música, Negro Amor...)