Que horas são?
sábado, 31 de agosto de 2013
quarta-feira, 28 de agosto de 2013
Maarten Vanden Abeele, Pina Bausch’s Frühlingsopfer (Rites of Spring) |
"(...)Talvez seria preciso dizer também que fazer o amor é sentir seu corpo se fechar sobre si, é finalmente existir fora de toda utopia, com toda a sua densidade, entre as mãos do outro. Sob os dedos do outro que te percorrem, todas as partes invisíveis do teu corpo se põem a existir, contra os lábios do outro os teus se tornam sensíveis, diante de seus olhos semi-abertos teu rosto adquire uma certeza, há um olhar finalmente par ver tuas pálpebras fechadas. Também o amor, assim como o espelho e como a morte, acalma a utopia do teu corpo, a cala, a acalma, a fecha como numa caixa, a fecha e a sela. É por isso que é um parente tão próximo da ilusão do espelho e da ameaça da morte; e se, apesar dessas duas figuras perigosas que o rodeiam, se gosta tanto de fazer o amor é porque, no amor, o corpo está aqui."
"A conferência “O corpo utópico”,Michel Foucault, de 1966, integra o livro El cuerpo utópico. Las heterotopías, cuja versão espanhola acaba de ser publicada (Ed. Nueva Vision). Esta versão está publicada no jornal argentino Página/12, 29-10-2010. A tradução é do Cepat."
segunda-feira, 26 de agosto de 2013
A Letter From Fred (assista, aqui)
Fred Stobaugh tem noventa e seis anos e escreveu uma carta para um concurso para novos cantores/compositores, realizado pelo Green Shoe Estúdio.
A inscrição foi em um envelope pardo e não incluiu um vídeo com os critérios exigidos no concurso. Quando o produtor Jacob Colgan abriu o envelope, ficou surpreso. Com sua carta, Stobaugh enviou uma canção que escreveu em memória de sua esposa, Lorraine que faleceu há pouco tempo.
A equipe do Shoe Estúdio Stobaugh reuniu-se com sua família para aprender mais sobre Lorraine e reunir fotografias para o vídeo.
"Ela me deu 75 anos da sua vida ". disse Fred.
Depois que Lorraine faleceu, Stobaugh sentou-se uma noite em sua sala de estar e escreveu uma canção para ela.
"Oh Sweet Lorraine" está à venda no iTunes por noventa e nove centavos.
Fred tem um grande senso de humor e brincou: "Quem sabe se fizermos um monte de dinheiro talvez eu possa conseguir alguns aparelhos auditivos."
Para comprar a música no iTunes
Uma das cenas mais bonitas é quando Fred ouve a sua música pela primeira vez. |
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Cortázar
Julio Florencio Cortázar
26 de agosto de 1914
"Toco tu boca, con un dedo todo el borde de tu boca, voy dibujándola como si saliera de mi mano, como si por primera vez tu boca se entreabriera, y me basta cerrar los ojos para deshacerlo todo y recomenzar, hago nacer cada vez la boca que deseo, la boca que mi mano elige y te dibuja en la cara, una boca elegida entre todas, con soberana libertad elegida por mí para dibujarla con mi mano en tu cara, y que por un azar que no busco comprender coincide exactamente con tu boca que sonríe por debajo de la que mi mano te dibuja.
Me miras, de cerca me miras, cada vez más de cerca y entonces jugamos al cíclope, nos miramos cada vez más cerca y los ojos se agrandan, se acercan entre sí, se superponen y los cíclopes se miran, respirando confundidos, las bocas se encuentran y luchan tibiamente, mordiéndose con los labios, apoyando apenas la lengua en los dientes, jugando en sus recintos, donde un aire pesado va y viene con un perfume viejo y un silencio. Entonces mis manos buscan hundirse en tu pelo, acariciar lentamente la profundidad de tu pelo mientras nos besamos como si tuviéramos la boca llena de flores o de peces, de movimientos vivos, de fragancia oscura. Y si nos mordemos el dolor es dulce, y si nos ahogamos en un breve y terrible absorber simultáneo del aliento, esa instantánea muerte es bella. Y hay una sola saliva y un solo sabor a fruta madura, y yo te siento temblar contra mí como una luna en el agua."
Toco a tua boca
"Com um dedo, toco a borda da tua boca, desenhando-a como se saísse da minha mão, como se a tua boca se entreabrisse pela primeira vez, e basta-me fechar os olhos para tudo desfazer e começar de novo, faço nascer outra vez a boca que desejo, a boca que a minha mão define e desenha na tua cara, uma boca escolhida entre todas as bocas, escolhida por mim com soberana liberdade para desenhá-la com a minha mão na tua cara e que, por um acaso que não procuro compreender, coincide exatamente com a tua boca, que sorri por baixo da que a minha mão te desenha.
Olhas-me, de perto me olhas, cada vez mais de perto, e então brincamos aos ciclopes, olhando-nos cada vez mais de perto.
Os olhos agigantam-se, aproximam-se entre si, sobrepõem-se, e os ciclopes olham-se, respirando confundidos, as bocas encontram-se e lutam sem vontade, mordendo-se com os lábios, quase não apoiando a língua nos dentes, brincando nos seus espaços onde um ar pesado vai e vem com um perfume velho e um silêncio. Então as minhas mãos tentam fundir-se no teu cabelo, acariciar lentamente as profundezas do teu cabelo enquanto nos beijamos como se tivéssemos a boca cheia de flores ou de peixes, de movimentos vivos, de uma fragrância obscura. E se nos mordemos a dor é doce, e se nos afogamos num breve e terrível absorver simultâneo do fôlego, essa morte instantânea é bela.
E há apenas um saliva e apenas um sabor a fruta madura, e eu sinto-te tremer em mim como a lua na água."
“O Jogo do Mundo (Rayuela)”, Cap. 7 – Júlio Cortázare agosto de 1914
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