Que horas são?

sexta-feira, 2 de março de 2012


         



Há pouco descobri a música da Skye Edwards. Uma voz perfeita para melodias intimistas e quase sempre delicadas. Todas as notas ficam bem na voz desta cantora britânica, nascida Shirley Klaris Yonavieve Edwards. Música da melhor qualidade.

Outra descoberta não tão recente, mas igualmente encantadora foi a poesia da Gilka Machado. Poesia visceral e considerada "imoral" para a época que foi escrita, Gilka da Costa Melo Machado nasceu a 12 de março de 1893, no Rio de Janeiro. Logo, uma mulher à frente do seu tempo, que escrevia sem medo sobre o desejo e o amor.

Humberto de Campos dizia "que sua rima cheirava a pecado", confirmando que ela dava voz à livre expressão erótica feminina. Quando li os primeiros poemas, não conseguia situá-la no início dos anos 1900, parecia uma escritora contemporânea, mulher independente, analisada, cheia de si. Engano, Gilka nasceu em outro século, mas foi uma mulher atemporal, que questionava a realidade da sua época e trazia à tona os desejos mais escondidos de cada mulher. Faleceu aos 87 anos e deixou sua poesia em 
Gilka Machado – Poesias Completas.

Trouxe alguns dos poemas para compartilhar aqui no blog. Um encantamento sem fim...Uma inspiração para viver bem o feminino. 



FECUNDAÇÃO  (escrito em 1928)




Teus olhos me olham

longamente,

profundamente,

imperiosamente...

De dentro deles teu amor me espia.

Teus olhos me olham numa tortura

de alma que quer ser corpo,

de criação que anseia ser criatura.

Tua mão contém a minha

de momento a momento:

é uma ave aflita

meu pensamento

na tua mão.

Nada me dizes,

porém entra-me a carne a persuasão

de que teus dedos criam raízes

na minha mão.

Teu olhar abre os braços,

de longe,

à forma inquieta de meu ser;

abre os braços e enlaça-me toda a alma.

Tem teu mórbido olhar

penetrações supremas

e sinto, por senti-lo, tal prazer,

há nos meus poros tal palpitação,

que me vem a ilusão

de que se vai abrir

todo meu corpo

em poemas.





SAUDADES

De quem é esta saudade
que meus silêncios invade,
que de tão longe me vem?

De quem é esta saudade,
de quem?

Aquelas mãos só carícias,
Aqueles olhos de apelo,
aqueles lábios-desejo...

E estes dedos engelhados,
e este olhar de vã procura,
e esta boca sem um beijo...

De quem é esta saudade
que sinto quando me vejo
(in Velha poesia, 1965)





ESBOÇO
Teus lábios inquietos
pelo meu corpo
acendiam astros...
e no corpo da mata
os pirilampos
de quando em quando,
insinuavam
fosforescentes carícias...
e o corpo do silêncio estremecia,
chocalhava,
com os guizos
do cri-cri osculante
dos grilos que imitavam
a música de tua boca...
e no corpo da noite
as estrelas cantavam
com a voz trêmula e rútila
de teus beijos...

(in Sublimação, 1928)




quinta-feira, 1 de março de 2012


                                                                        
Há muito mais do que sabemos de nós naquela camadas que insistimos  esconder ou ignorar.
Vontades, desejos que pulsam e nos dizem que é preciso querer mais da vida do que o simples cotidiano. Converse com sua alma, seu coração, tudo está lá, pronto para ser revelado.
Ilumine-se! Busque a luz do insight que invade nossos cantinhos mais escuros. A lanterna somos nós. Que tal acioná-la neste dia que começa?





BANDEIRA



(ZECA BALEIRO)



"Eu não quero ver você cuspindo ódio
Eu não quero ver você fumando ópio, pra sarar a dor
Eu não quero ver você chorar veneno
Não quero beber o teu café pequeno
Eu não quero isso seja lá o que isso for
Eu não quero aquele
Eu não quero aquilo
Peixe na boca do crocodilo
Braço da Vênus de Milo acenando tchau

Não quero medir a altura do tombo
Nem passar agosto esperando setembro, se bem me lembro
O melhor futuro: este hoje escuro
O maior desejo da boca é o beijo
Eu não quero ter o Tejo escorrendo das mãos
Quero a Guanabara, quero o Rio Nilo
Quero tudo ter, estrela, flor, estilo
Tua língua em meu mamilo água e sal

Nada tenho vez em quando tudo
Tudo quero mais ou menos quanto
Vida vida, noves fora, zero
Quero viver, quero ouvir, quero ver
(Se é assim quero sim, acho que vim pra te ver)"



                            (no meu caminho vi uma árvore que abraçava um prédio...)



"contar uma história de amor
por o fim pelo meio
um começo que não veio
nem uma rima em or


cantar como quem resiste
resistir como quem deseja
meu versejar seja
o riso que te visite
a brisa que te festeja


não
tristeza não
essa é quando
a alma veste luto
e já não luta


peleja sim
coração
em busca de beleza


corre anda rasteja
só não deixa fugir
a vida que te beija"



Alice Ruiz S
[dois em um
]







                                         (chuva de verão em uma rua arborizada do Moinhos)








"a vida é uma vida só
a vida é uma ávida
a vida é uma ave
a vida é uma
só uma
só."

(geraldo carneiro)