Minhas primeiras lembranças da infância têm livros e arte. Os livros azuis que ficavam na estante eram os meus preferidos. Azuis e grandes para as minhas mãos tão pequenas. Lá estavam as imagens de arte que minha mãe colecionava e que ficaram inscritas em mim. Hoje, quarenta anos depois, quando as reencontro, meus olhos voltam à infância.
Vicente Palmaroli González
1834-1896
La confesión
The letter
Summers afternoon at the beach
Summer Days
Jeune élégante en buste
NUNCA
"Nunca, diga não pra mim Eu não vou poder trabalhar, conversar, descansar sem o teu sim Seja sempre assim Por favor me dê um sinal Um cartão postal, um aval dizendo assim 'não, não é o fim, dure o tempo que você gostar de mim Entre o não e o sim, só me deixe quando o lado bom for menor do que o ruim' Nunca se esconda assim Eu não vou saber te falar, te explicar que Eu também me assusto muito Você nunca vê que eu sou só um menino destes tais Que pensam demais Logo mais, vou correr atrás de ti. 'não, não é o fim, dure o tempo que você gostar de mim Entre o não e o sim, só me deixe quando O lado bom for menor do que o ruim'."
"A fala não é apenas o perfume da alma, é a flor da própria alma."
Lídia Jorge in"Combateremos a Sombra"
Ouvi, atentamente, cada palavra da escritora Lídia Jorge, no IEL (Instituto Estadual do Livro/RS), no encontro Vozes da Literatura Portuguesa, ao fim da tarde do dia 23 de maio, aqui em Porto Alegre. Pode-se afirmar que Lídia é uma compositora de sinfonias entre os personagens dos seus livros. A narrativa nos transporta para o universo de cada um deles, com uma riqueza impressionante de detalhes. Somos enlaçados pelas palavras e convidados a passear por referências culturais e cenários diversos. Pessoalmente, encontramos uma mulher bonita, extremamente elegante, também no trato com as pessoas. Diante dela, silenciamos para ouvir, mas ela inverte a situação e faz perguntas sobre a cidade, sobre os livros que estamos lendo e, num minuto ela é a ouvinte. Ao fim de duas horas de encontro, ela atende, pacientemente, a todos que a procuram. E com uma simplicidade que encanta, conversa, enquanto autografa seus livros. Foram momentos únicos, inesquecíveis para quem lá estava. Tenho certeza de que aprendemos para além de um curso de literatura.
Apre(e)ndemos, Lídia Jorge.
"Quando se tem histórias dentro da cabeça, sai-se para a rua e encontram-se duas, volta-se para casa e acham-se três, e se por uma certa noite de Primavera, se sai para jantar à luz das velas, encontra-se uma cena, tão poderosa, que uma pessoa não pode deixar de contá-la. (...)"
(Extraído da crônica "Piano Bar", Lídia Jorge)
"O futuro não precisa de manter a palavra cultura em itálico, e de entre os seus múltiplos sentidos, terá de privilegiar aqueles que fazem dos cidadãos pessoas livres."
(minha indisfarçável alegria por estar ali, com ela)
Os livros autografados
Para ouvir:
Georges Moustaki, que há poucos dias foi cantar em outros planos.
segunda-feira, 27 de maio de 2013
"Cometi o pior dos pecados que um homem pode cometer, não fui feliz"
(Jorge Luís Borges)
Esforço diário para jamais cometer este pecado! Rio de mim mesma, invento alegrias, mergulho fundo nas situações todas, visceralizo tudo (dizem!). Não tenho arrependimentos, digo o que sinto, acredito nas pessoas e levo tombos terríveis por conta disto, mas já aprendi a levantar. Não uso máscaras nem maquiagem, prefiro a leveza da alma e a transparência dos sentimentos. Para as minhas angústias e dores, o meu canto, a minha alquimia. Brinco como criança, choro feito gente grande, fico vermelha por timidez, falo pelos cotovelos, leio tudo, escrevo muito, meu coração tem nome e sobrenome. Dispenso rodeios, protocolos, evasivas e mensagens de duplo sentido. Sou péssima para decifrar silêncios, porque costumo creditar a mim o erro de interpretação. Simplicidade, gentileza e delicadeza me encantam. Para a vida, coragem; para o amor, verdade. E, para todo o resto, o Divino que protege a todos nós.
O Amor Nunca Salva, mas alguém Tem uma Ideia Melhor?
"Descobri, um pouco tarde, que afinal todos os meus livros são histórias de amor. Só que as daninhas estavam tão bem disfarçadas que eu próprio não tinha reparado. Às vezes, amo entre duas pessoas, outras de amor entre uma pessoa e uma ideia. Idalina enamora-se por «uma dança sem música». Sam Espinosa apaixona-se por uma mulher uns anitos mais velha (duzentos, coisa pouca), Greg quase é salvo da perdição por uma sósia de Angelina Jolie. O amor está no ar e também, como diria um poeta, o amor está no mar. O amor não salva, nunca salva, mas alguém tem uma ideia melhor?
Tão sensacional descoberta levou-me a cogitar no seguinte: e qual será a melhor forma de amar? Carente de modelos reais na vida humana, decidi procurá-los na natureza. Com a ajuda da televisão, claro, Canal Odisseia, National Geographic, Canal Panda, essas coisas. Pode-se lá chegar à natureza, nos dias que correm, senão pela televisão! Três rolos modelos logo me saltaram à vista: o Amor do Louva-a-deus; o Amor do Cisne; o Amor do Urso Polar.
Após alguma esmiuçação, concluí que qualquer um me parece bem, e tem as suas vantagens e desvantagens.
No romance do louva-a-deus, a fêmea devora o macho depois da cópula. É natural, toda a gente sabe que a gravidez estimula o apetite. E seria bem pior se ela o devorasse antes da consumação.
O cisne acasala para a vida. É bonito. Lembra certos parzinhos que encontramos sobretudo na noite boémia, muito perfeitos, muito encapsulados, o mundo é deles, o mundo são eles. Gosto, mas como nunca experimentei sinto-me sempre um bocadinho do outro lado da vitrina, a definhar de inveja.
Pronto, confesso. O que, esse sim, me toca profundamente é o amor do urso polar. É esquivo, dura pouco – pelo menos a parte do encontro. Urso polar e ursa polar namoram e acasalam brevemente, e logo se apartam, cada um para seu lado, para todo o sempre, a fêmea talvez com uma cria, o macho continuando a sua caminhada, glaciares fora, de nenhures em direcção a nenhures.
Vai solitário e triste, o nosso urso? Talvez. Eu gosto de pensar que vai de coração cheio, e que a brevidade do encontro é compensada pela intensidade da memória. Tanto quanto sei, não há ursos com Alzheimer."
Rui Zink, in "O Amante é Sempre o Último a Saber"
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RUI ZINK é daquelas pessoas que queremos ficar ouvindo por horas. É divertido, sarcástico,envolvente com a palavra. Durante o encontro de escritores portugueses que aconteceu no IEL - Instituto Estadual do Livro do RS,leu textos de um dos seus livros "A Instalação do Medo", contou-nos sobre seu processo de escrita e, ainda partilhou conosco um poema que fez aqui no Brasil,no carro que os transportava para o aeroporto, em meio a um trânsito que o fazia pensar não chegariam a tempo para embarcar para Porto Alegre. Um poema divertido!
Infelizmente, não filmei como deveria, mas os vídeos que posto aqui são para mostrar um tantinho daqueles momentos no IEL.
(sobre o poema feito sob a angústia de não chegar a tempo para o voo)
(aqui o finalzinho da leitura de um trecho do seu livro "A Instalação do Medo".Com Inês Pedrosa)