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sexta-feira, 12 de julho de 2013

Pablo Neruda nasceu em 12 de julho de 1904




TU ÉS EM MIM PROFUNDA PRIMAVERA





"O sabor da tua boca e a cor da tua pele, 
pele, boca, fruta minha destes dias velozes, 
diz-me, sempre estiveram contigo 
por anos e viagens e por luas e sóis 
e terra e pranto e chuva e alegria, 
ou só agora, só agora 
brotam das tuas raízes 
como a água que à terra seca traz 
germinações de mim desconhecidas 
ou aos lábios do cântaro esquecido 
na água chega o sabor da terra? 

Não sei, não mo digas, tu não sabes. 
Ninguém sabe estas coisas. 
Mas, aproximando os meus sentidos todos 
da luz da tua pele, desapareces, 
fundes-te como o ácido 
aroma dum fruto 
e o calor dum caminho, 
o cheiro do milho debulhado, 
a madressilva da tarde pura, 
os nomes da terra poeirenta, 
o infinito perfume da pátria: 
magnólia e matagal, sangue e farinha, 
galope de cavalos, 
a lua poeirenta das aldeias, 
o pão recém-nascido: 
ai, tudo o que há na tua pele volta à minha boca, 
volta ao meu coração, volta ao meu corpo, 
e volto a ser contigo a terra que tu és: 
tu és em mim profunda primavera: 
volto a saber em ti como germino. "

Pablo Neruda, in "Os Versos do Capitão"


quarta-feira, 10 de julho de 2013

(a caminho de casa...)






JANELA


Adélia Prado



"Janela, palavra linda.
Janela é o bater das asas da borboleta amarela.
Abre pra fora as duas folhas de madeira à-toa pintada,
janela jeca, de azul.
Eu pulo você pra dentro e pra fora, monto a cavalo em você,
meu pé esbarra no chão.
Janela sobre o mundo aberta, por onde vi
o casamento da Anita esperando neném, a mãe
do Pedro Cisterna urinando na chuva, por onde vi
meu bem chegar de bicicleta e dizer a meu pai:
minhas intenções com sua filha são as melhores possíveis.
Ô janela com tramela, brincadeira de ladrão,
clarabóia na minha alma,
olho no meu coração."