Que horas são?

sábado, 11 de agosto de 2012





                                                                                (Pai e filho...)



O   PAI



"Nossa mão pequena
em sua mão,
semente no fruto
ou fruta em seu cacho.

Nossos brinquedos
cabiam em seus sapatos.

O pai não teme a treva
nem os barulhos do pátio.

O pai é o pai.
Pão e o vinho
na cabeceira da mesa.

Um dia nos descobrimos
surfando as ondas,
sobrevoando as montanhas,
cruzando as estradas.

Mas todas as setas
apontam o regresso
à casa paterna.

Quando o pai sorri,
o sol se impõe
sobre a neblina.

Ao abraçá-lo,
sentimos o peso do tempo
sobre suas costas.

O pai tem gestos brandos
e olhar incisivo.

Mas onde quer que estejamos,
o seu olhar nos guia.

E a sua mão
nos abençoa."






1998, 4º Reponte da Canção Gaúcha
Luiz Coronel, escritor, compositor e publicitário brasileiro, nascido em Bagé RS, 1938.
 
 
 





"Andá com fé eu vou
Que a fé não costuma faiá.(...)"

    (gilberto gil)        
                                        

“Algo que evite qualquer relação com o passado faz tão pouco sentido quanto algo que só queira repetir o passado.”
                                                  Humberto Gessinger
 
                                                                                           

DIA DO ADVOGADO: CELEBRAR, SIM!

        (Ganhei esta imagem da Deusa Themis no Natal de 1992...)




Por que hoje é dia onze de agosto, Dia do Advogado, trago as primeiras palavras que aprendi na faculdade a respeito da missão que queria abraçar.

São princípios básicos para nortear o caminho que nem imaginava seria tão árduo, tão íngrime, tão complexo quanto se apresentou.

Há momentos de pura emoção, em que a verdade transborda facilmente e tudo flui. Há momentos de prazer intelectual, de crescimento pessoal e profissional, e, por outro lado é preciso lustrar as emoções e conviver com o pior do ser humano, travestido de advogado.

Neste instante,  precisamos mostrar a força da ética, da honestidade e do compromisso com o cliente que nos escolheu e honrar o juramento que foi feito. 

Que todos nós possamos ter orgulho da profissão que escolhemos e nunca esquecer o conceito de justiça.

Abraço,







Os Mandamentos do Advogado




(Eduardo J. Couture)




"ESTUDA - O Direito se transforma constantemente. Se não seguires seus passos, serás cada dia um pouco menos advogado;

PENSA - O Direito se aprende estudando, mas exerce-se pensando;

TRABALHA - A advocacia é uma luta árdua posta a serviço da Justiça;

LUTA - Teu dever é lutar pelo Direito, mas no dia em que encontrares o Direito em conflito com a Justiça, luta pela Justiça;

SÊ LEAL - Leal com teu cliente, a quem não deves abandonar senão quando o julgares indigno de ti. Leal com o adversário, ainda que ele seja desleal contigo. Leal com o Juiz, que ignora os fatos e deve confiar no que dizes.

TOLERA
- Tolera a verdade alheia na mesma medida em que queres que seja tolerada a tua;

TEM PACIÊNCIA
- O tempo se vinga das coisas que se fazem sem a sua colaboração;

TEM FÉ
- Tem fé no Direito como o melhor instrumento para a convivência humana; na Justiça, como destino normal do Direito; na Paz, como substituto bondoso da Justiça; e sobretudo, tem fé na Liberdade, sem a qual não há Direito, nem Justiça, nem Paz;

ESQUECE - A advocacia é uma luta de paixões. Se a cada batalha, fores carregando a tua alma de rancor, dia chegará em que a vida será impossível para ti. Terminando o combate, esquece tanto a vitória como a derrota; e

AMA A TUA PROFISSÃO - Trata de considerar a advocacia de tal maneira que, no dia em que teu filho te peça conselhos sobre o destino, consideres uma honra para ti propor-lhe que se faça advogado."






quinta-feira, 9 de agosto de 2012

                                                       (Nas curvas de Minas...)




A difícil arte de viver o presente, somente o presente. Colher o momento. Viver o que há para ser vivido, sem a nostalgia doída do passado e ansiedade pelo futuro. Exige foco e entrega, confiança e amor. Assim, quando relembrarmos o passado, será com o coração preenchido de felicidade, plenos de nós e do outro. 







PARA ALÉM DA CURVA DA ESTRADA




Alberto Caeiro (Heterônimo de Fernando Pessoa)




"Para além da curva da estrada
Talvez haja um poço, e talvez um castelo,
E talvez apenas a continuação da estrada.
Não sei nem pergunto.
Enquanto vou na estrada antes da curva
Só olho para a estrada antes da curva,
Porque não posso ver senão a estrada antes da curva.
De nada me serviria estar olhando para outro lado
E para aquilo que não vejo.
Importemo-nos apenas com o lugar onde estamos.
Há beleza bastante em estar aqui e não noutra parte qualquer.
Se há alguém para além da curva da estrada,
Esses que se preocupem com o que há para além da curva da estrada.
Essa é que é a estrada para eles.
Se nós tivermos que chegar lá, quando lá chegarmos saberemos.
Por ora só sabemos que lá não estamos.
Aqui há só a estrada antes da curva, e antes da curva
Há a estrada sem curva nenhuma."


Hoje é o aniversário da minha querida amiga Ana Lúcia Teixeira. Escrevi um recadinho pra ela  no facebook que transcrevo aqui como homenagem e presente. Nossa amizade é construída todos os dias e assim sempre será.



Desejos e presentinhos:

Flores coloridas no teu jardim.
Águas mansas no teu navegar e um bom farol a te guiar.
Relações honestas, amor de qualidade, amigos sempre pertinho.
Família em harmonia com todas as imperfeições que te ajudem a crescer.
Sede de Vida. Muita Sede.
Viagens inesquecíveis e paisagens indescritíveis.
Um continente inteiro de possibilidades e uma ilha para voltar.
Brindes, alegrias, sorrisos, sons de felicidade.
Festas para comemorar a existência.
Saúde para viver e conviver.
Mãos dadas, olho no olho, carinhos, amor certinho para te fazer sorrir sem motivo.
Cheiro de filho e beijinhos de neto.
Música para inspirar e dançar.
Coragem para mudar de ideia, de rota, de casa, de lugar...
Prosperidade para bancar teus projetos e te fazer livre para criar.
Brilho no olho, borboletas no estômago, coração saltitante.
Vida longa e plena, Ana!
E nossa amizade renovada a cada troca que fazemos.
Que a felicidade te encontre, te visite, faça morada em teu coração e que eu possa compartilhar dela.
Beijinhos!!! Feliz Aniversário!!!
 

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

E A VIDA, O QUE É?

                    (Paulinho da Viola e Ferreira Gullar)

 
SOLUÇÃO  DE  VIDA 
 
 
"Acreditei na paixão
E a paixão me mostrou
Que eu não tinha razão



Acreditei na razão

E a razão se mostrou
Uma grande ilusão



Acreditei no destino

E deixei-me levar
E no fim
Tudo é sonho perdido
Só desatino, dores demais



Hoje com meus desenganos

Me ponho a pensar
Que na vida, paixão e razão,
Ambas têm seu lugar



E por isso eu lhe digo

Que não é preciso
Buscar solução para a vida
Ela não é uma equação
Não tem que ser resolvida



A vida, portanto, meu caro,

Não tem solução."
 
 

terça-feira, 7 de agosto de 2012

AMOR DE MÃE




Há quase quarenta e cinco anos,  minha mãe, depois de perder dois filhos recém - nascidos ficou grávida de mim. E, num estado pleno de delicadeza começou a preparar o enxoval.

Cada casaquinho era o símbolo da esperança de ver um filho crescer. Em tempos de poucos exames e em que o sexo do bebê era desconhecido até a hora do parto, ela confeccionava tudo em cores neutras, mas com uma vontade enorme de que fosse uma menina. Então, entre azuis , brancos e amarelos de todas as matizes, surgia um rosa, absoluto.

Tenho comigo muitas destas roupinhas que ela fez e guardo como uma herança bendita que ela me reservou. Todos os anos revisito a minha caixa de guardados, e lavo cada peça pensando no trabalho amoroso de minha  mãe e desejava destacar alguma como objeto de lembrança.

Pensei no talento da minha amiga Maria Teresa e ela entendeu a  ideia. E o resultado é esta delicada peça que me fez emocionada e feliz quando ganhei.




Cada ponto tricotado, a escolha da fitinha que arremata, o tempo passado, o cuidado com que conservei...detalhes que Maria Teresa soube valorizar.






Que eu saiba ser uma filha à altura de todo o amor que sempre recebi, porque este é um caminho de aprendizados infinitos. 

Obrigada, Maria Teresa, pela poesia do teu trabalho e pela acolhida da tua amizade.


[Maria Teresa Objetos Decorativos - Rua Tobias da Silva, 174 - bairro Moinhos de Vento, em Porto Alegre.]

                                           (registrei o amor...) 





A  DEMORA


 

"O amor nos condena:
demoras
mesmo quando chegas antes.
Porque não é no tempo que eu te espero.

Espero-te antes de haver vida

e és tu quem faz nascer os dias.

Quando chegas

já não sou senão saudade
e as flores
tombam-me dos braços
para dar cor ao chão em que te ergues.

Perdido o lugar

em que te aguardo,
só me resta água no lábio
para aplacar a tua sede.

Envelhecida a palavra,

tomo a lua por minha boca
e a noite, já sem voz
se vai despindo em ti.

O teu vestido tomba

e é uma nuvem.
O teu corpo se deita no meu,
um rio se vai aguando até ser mar."





Mia Couto, in " idades cidades divindades"






(O trabalho da artista plástica Miriam Postal pode ser encontrado na loja Maria Teresa Objetos Decorativos, na rua Tobias da Silva, 174, bairro Moinhos de Vento, em Porto Alegre.) 
 
                       (pertinho de Ouro Preto...)




“(...) jamais você me olha lá de onde te vejo, inversamente, o que olho nunca é o que quero ver."



LACAN, Seminário XI


 

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segunda-feira, 6 de agosto de 2012

                            ("tenho em mim todos os sonhos do mundo...)
 
"Elegimos nuestro camino a lo largo de interminables estanterías seleccionando este o aquel volumen por ninguna razón claramente discernible: por la cubierta, por el título, por un nombre, por algo que aliguien dijo o no dijo, por una corazonada, por capricho, por error, porque creemos que podemos encontrar en ese libro un relato, un personaje o un detalle determinados, porque creemos que fue escrito para nosotros, porque creemos que fue escrito para cualquiera menos para nosotros y queremos saber por qué hemos sido excluidos, porque queremos aprender, o queremos reír o queremos entregarnos al olvido."


Alberto Manguel en La biblioteca de noche.


                               (que eu saiba calar quando necessário...)



 
 
"Com muita sabedoria, estudando muito, pensando muito, procurando compreender tudo e todos, um homem consegue, depois de mais ou menos quarenta anos de vida, aprender a ficar calado."
 
 

(Millôr Fernandes)

domingo, 5 de agosto de 2012

                                  (lendo Adélia Prado)

 

PARA O ZÉ


(Adélia Prado)



"Eu te amo, homem, hoje como
toda vida quis e não sabia,
eu que já amava de extremoso amor
o peixe,a mala velha, o papel de seda e os riscos
de bordado, onde tem
o desenho cômico de um peixe - os
lábios carnudos como os de uma negra.
Divago, quando o que quero é só dizer
te amo. Teço as curvas, as mistas
e as quebradas, industriosa como abelha,
alegrinha como florinha amarela, desejando
as finuras, violoncelo, violino, menestrel
e fazendo o que sei, o ouvido no teu peito
pra escutar o que bate. Eu te amo homem, amo,
o teu coração, o que é, a carne de que é feito,
amo sua matéria, fauna e flora,
seu poder de perecer, as aparas de tuas unhas
perdidas nas casas que habitamos, os fios
de tua arma. Esmero. Pego tua mão, me afasto,
viajo
pra ter saudade, me calo, falo em latim pra
requintar meu gosto:"Dize-me, ó amado da minha alma, onde apascentas
o teu gado, onde repousas ao meio-dia, para que eu
não ande vagueando atrás dos rebanhos de teus
companheiros".
Aprendo. Te aprendo, homem. O que a memória ama
fica eterno. Te amo com a memória, imperecível.
Te alinho junto das coisas que falam
uma coisa só: Deus é amor. Você me espicaça como
o desenho do peixe da guarnição de cozinha, você
me guarnece,
tira de mim o ar desnudo, me faz bonita
de olhar-me, me dá uma tarefa, me emprega,
me dá um filho, comida, enche minhas mãos.
Eu te amo, homem, exatamente como amo o que
acontece quando escuto oboé. Meu coração vai
desdobrando
os panos, se alargando aquecido, dando
a volta ao mundo, estalando os dedos pra pessoa e
bicho.
Amo até a barata, quando descubro que assim te
amo,
o que não queria dizer amo também, o piolho.
Assim,te amo do modo mais natural, vero-romântico,
homem meu, particular homem universal.
Tudo que não é mulher está em ti, maravilha.
Como grande senhora vou te amar, os alvos linhos,
a luz na cabeceira, o abajur de prata;
como criada ama, vou te amar, o delicioso amor:
com água tépida, toalha seca e sabonete cheiroso,
me abaixo e lavo teus pés, o dorso e a planta
deles
eu beijo."

       (Thales, aos dez anos...)

 


"Se você tem uma coisa a afirmar, você não tem que fazer literatura. Literatura é uma conversa sobre as dúvidas. É uma conversa sobre as delicadezas, sobre as faltas."
 



Bartolomeu Campos de Queirós





QUAIS MISTÉRIOS TEM CLARICE?





CLARICE


Caetano Veloso
 


"Há muita gente
Apagada pelo tempo
Nos papéis desta lembrança
Que tão pouco me ficou
Igrejas brancas
Luas claras na varandas
Jardins de sonho e cirandas
Foguetes claros no ar
Que mistério tem Clarice
Que mistério tem Clarice
Pra guardar-se assim tão firme, no coração
Clarice era morena
Como as manhãs são morenas
Era pequena no jeito
De não ser quase ninguém
Andou conosco caminhos
De frutas e passarinhos
Mas jamais quis se despir
Entre os meninos e os peixes
Entre os meninos e os peixes
Entre os meninos e os peixes
Do rio, do rio
Que mistério tem Clarice
Que mistério tem Clarice
Pra guardar-se assim tão firme, no coração
Tinha receio do frio
Medo de assombração
Um corpo que não mostrava
Feito de adivinhações
Os botões sempre fechados
Clarice tinha o recato
De convento e procissão
Eu pergunto o mistério
Que mistério tem Clarice
Pra guardar-se assim tão firme, no coração
Soldado fez continência
O coronel reverência
O padre fez penitência
Três novenas e uma trezena
Mas Clarice
Era a inocência
Nunca mostrou-se a ninguém
Fez-se modelo das lendas
Fez-se modelo das lendas
Das lendas que nos contaram as avós
Que mistério tem Clarice
Que mistério tem Clarice
Pra guardar-se assim tão firme, no coração
Tem que um dia
Amanhecia e Clarice
Assistiu minha partida
Chorando pediu lembranças
E vendo o barco se afastar de Amaralina
Desesperadamente linda, soluçando e lentamente
E lentamente despiu o corpo moreno
E entre todos os presentes
Até que seu amor sumisse
Permaneceu no adeus chorando e nua
Para que a tivesse toda
Todo o tempo que existisse
Que mistério tem Clarice
Que mistério tem Clarice
Pra guardar-se assim tão firme, no coração."