Que horas são?

sexta-feira, 9 de março de 2012




Carlos Eduardo escreve e pinta poesia. Transforma-se em palavras quando elas já não cabem mais em sua alma e transborda em livros. Aquarela suas emoções e nascem os quadros.  Nascem. Assim como os livros, eles são frutos da essência de quem dimensiona a Vida pelas linhas da sensibilidade.


A arte limpa os cantos da mente, revela nossos olhares mais íntimos diante da Vida, harmoniza o caos e dá sentido ao caminho.O artista é a própria luz do insight que invade o escuro que há em nós. LUZ e SOMBRA, PRETO e BRANCO, a dualidade da Vida. Há muito mais entre e além destes extremos. É a sutileza do olhar aperfeiçoado que capta os sentidos e nos devolve ARTE. 

Uma pessoa rara, Carlos Eduardo é um poema-insight!





"Carlos Eduardo Leal
Psicanalista, escritor e artista plástico.
Autor de "Fragmenta" e "A sede da mulher"(poesia).
Romances: "O nó górdio" e "A última palavra"



quinta-feira, 8 de março de 2012

                                         (A poesia que leio...)



Ivan e seus textos que tocam a alma. É bom pensar sobre nossas urgências emocionais, a necessidade de nomear relacionamentos ou exigir do outro o que nem ele sabe o que sente ainda. Ou, nas relações de longo tempo, o uso excessivo das palavras, quando só sentir já bastaria.



PALAVRAS SÃO INÚTEIS

Ivan Martins (Revista Época do dia 07/03/2012)


"A gente cresce acreditando no poder das palavras. Desde criança, nos dizem que, conversando, seremos capazes de acertar qualquer coisa, de resolver qualquer situação. Infelizmente, não é verdade. Quando se trata de relacionamentos, as palavras são inúteis.

Os sentimentos apaixonados que nos ligam a alguém não são criados por palavras. Os desentendimentos que aos poucos ou de súbito nos separam da pessoa não são provocados por palavras. Os sentimentos de perda, dor e morte causados pelas rupturas tampouco são remediados por palavras. As palavras descrevem, celebram, exaltam e lamentam nossas paixões, mas não são responsáveis por elas. Quando se trata de amor, as palavras são inúteis.

Não obstante, nós falamos. Cultivamos a ilusão de que o outro pode ser envolvido, seduzido, convencido pela nossa retórica. Acreditamos, fundamentalmente, que o nosso desejo pode ser transmitido pela palavra. Por isso, telefonamos, mandamos mensagens, escrevemos longos emails, rabiscamos poemas, fazemos letras de música, marcamos conversas dolorosas e intermináveis que – a rigor – não levam a lugar nenhum.

Quando existe um sentimento comum, as palavras são apenas acessórias. Quando não há sentimento, elas agem como um bisturi: cortam, expõem e dilaceram, mas não criam.

Tenho a impressão de que aquilo que liga dois seres humanos existe além das palavras. Uma magia de natureza física ou psíquica dita que Fulana é atraída por Sicrano ou vice-versa. Isso acontece de forma instantânea, ou pode ser construído lentamente, mas não sobre o alicerce das palavras. As palavras são apenas a aparência do que nos liga. Quando as pessoas conversam, trocam entre si códigos que vão além do que elas dizem. Há os olhos, as mãos, o corpo e a voz, que sinalizam uma espécie de todo invisível. Há um conjunto de sinais nos quais um se expressa e o outro se reconhece – e deseja, ou não deseja. O sentido das palavras nessa troca é secundário. A mensagem profunda sobre quem se é já foi passada antes.


Infelizmente, os ciclos de paixão e rejeição não são simultâneos. Eu ainda estou cheio de palavras doces, mas você não quer mais ouvi-las. Ou eu me dirijo a você com palavras de desejo e prazer, mas elas deixaram de fazer sentido. Se você não sente mais o que eu sinto, não vai entender o que eu digo. Nem será tocada pela magia das minhas palavras, que se tornam inúteis. Quantas das nossas conversas não são trocas de palavras inúteis? Tentamos transpor com elas o abismo da indiferença do outro. Explicamos, sugerimos, argumentamos - inutilmente.Se isso não nos parece tão claro é porque vivemos num universo revestido de palavras. Temos a sensação de que elas iniciam e finalizam todos os atos, mas não é assim. As palavras são apenas sintomas. Quando as pessoas se conhecem e se apaixonam, conversam da mesma forma como se beijam, com fúria e com encantamento. No final, quando tudo acabou, as palavras doem e escasseiam. Elas são repelidas pelo outro da mesma forma que o toque, igual que o olhar. Temos a impressão de estar encerrando o amor com as palavras, mas elas são apenas as flores do enterro. Quando chegamos a elas, o desejo está morto.

Então, economize palavras. Fique quieto e preste atenção. Escute o que ela não diz. Entenda o que ele nem falou. Os gestos contam coisas, os olhares antecipam. Atitudes valem mais do que declarações de amor – e não podem ser substituídas ou consertadas por palavras."





terça-feira, 6 de março de 2012




P L A Y L I S T



Para ouvir em momentos em que o mundo pede outro som, em que é preciso mudar as sintonias para que tudo se reorganize dentro de nós.








































                                                                           (ouço, encantada)


IMPACIÊNCIA


(duas variações sobre o mesmo tema; aqui a segunda variação)




"(...)Se eu pudesse correr pelo tempo afora,
vertiginosamente,
futuro adiante,
saltando tantas horas tediosas,
vazias de ti,
e voar assim até o momento de todos os momentos,
em que hás de ser minha!...

Mas...
e se esse minuto faltar
nas areias de todas as ampulhetas?...
E se tudo fosse inútil:
a máquina de Wells,
as botas de sete léguas do Gigante?!...

Então...
ah!, então eu gostaria
de desviver para trás, dia por dia,
para parar só naquele instante,
e nele ficar, eternamente, prisioneiro...
(Tu sabes, aquele instante em que sorrias
e me fizeste chorar...)"



Guimarães Rosa
(1908-1967)


              
             (fiquei fascinada com estas rochas imensas na Praia da Guarita, Torres, RS)


"A saudade que as horas atravessam solitárias conspiram como o mar revolto o faz contra as rochas. Insone, adoeço estrelas e adormeço palavras. Nada cala a não ser o silêncio."


Carlos Eduardo Leal



Psicanalista, escritor e artista plástico.
Autor de "Fragmenta" e "A sede da mulher"(poesia). 
Romances: "O nó górdio" e "A última palavra








domingo, 4 de março de 2012




CHUVA POÉTICA



"O céu rasgou-se espada afora
e verteu lágrimas,
muitas lágrimas,
copiosamente lágrimas.
... Não sei se eram de tristeza ou indignação.
Também, não adianta perguntar,
que ninguém responde.
Pus minha canequinha ao lado de fora da janela,
... ela quase transbordou.
Estou rica: tenho uma caneca com lágrimas do céu.
Os vizinhos caçoam:
quem é que compra um punhado de chuva?"

Flora Figueiredo