Que horas são?

domingo, 8 de junho de 2014



O fotógrafo

Difícil fotografar o silêncio. Entretanto tentei. Eu conto:
Madrugada a minha aldeia estava morta.
Não se ouvia um barulho, ninguém passava entre as casas.
Eu estava saindo de uma festa. Eram quase quatro da manhã.
Ia o Silêncio pela rua carregando um bêbado.
Preparei minha máquina.
O silêncio era um carregador?
Estava carregando o bêbado.
Fotografei esse carregador.
Tive outras visões naquela madrugada.
Preparei minha máquina de novo.
Tinha um perfume de jasmim no beiral de um sobrado.
Fotografei o perfume.
Vi uma lesma pregada na existência mais do que na pedra.
Fotografei a existência dela.
Vi ainda um azul-perdão no olho de um mendigo.
Fotografei o perdão.
Olhei uma paisagem velha a desabar sobre uma casa.
Fotografei sobre. Foi difícil fotografar sobre.
Por fim eu enxerguei a Nuvem de calça.
Representou para mim que ela andava na aldeia de braços com Maiakovski – seu criador.
Fotografei a Nuvem de calça e o poeta.
Ninguém outro poeta no mundo faria uma roupa mais justa para cobrir a sua noiva.
A foto saiu legal.


Manoel de Barros




(Manoel de Barros na voz do meu ídolo, desde a adolescência, Eduardo Tornagui)

Eduardo Tornagui, no Facebook


Vidas inventadas
(clique e leia o artigo)


EL PAÍS


"Uma lista de fabuladores que levaram as suas mentiras longe demais."  Quando uma pessoa mente a ponto de envolver a vida de outro, a doença já está instalada e os estragos são incalculáveis e nem sempre medidos. Há quem viva uma vida falsificada e mesmo diante da realidade que se impõe, insiste em cultivar suas mentiras, gastando uma energia imensa que tanto faz falta em seus dias. E perde, mais do que os envolvidos em sua teia.