Que horas são?

sábado, 8 de setembro de 2012

                                                (meu amor-perfeito)



"Deixaste muda a palavra que

Incompreendida,  perde a ousadia e
nunca mais quer dizer o que sente.
Triste mente,  tristemente"




Da Helena Britto Pereira que sabe conjugar os verbos da vida. 









A Angela Lago é escritora, artista plástica, ilustradora e doce na voz e na escrita. Conheci a Angela no Facebook e a delicadeza do seu trabalho me encanta. No vídeo ela fala das ilustrações que fez para a poesia de Drummond no livro "MENINO DRUMMOND"
Para conhecer mais da Angela, visite o seu site        http://www.angela-lago.net.br/

TRÊS PRESENTES DE FIM DE ANO

I

"Querida, mando-te
uma tartaruguinha de presente
e principalmente de futuro
pois viverá uma riqueza de anos
e quando eu haja tomado a estígia barca
rumo ao país obscuro
ela te me lembrará no chão do quarto
e te dirá em sua muda língua
que o tempo, o tempo é simples ruga
na carapaça, não no fundo amor.

II

Nem corbeilles nem
letras de câmbio
nem rondós nem
carrão 69
nem festivais
na ilha d’amores
não esperes de mim
terrestres primores.
Dou-te a senha para
o dom imperceptível
que não vem do próximo
não se guarda em cofre
não pesa, não passa
nem sequer tem nome.
Inventa-o se puderes
com fervor e graça.

III

Sempre foi difícil
ah como era difícil escolher
um par de sapatos, um perfume.
Agora então, amor, é impossível.
O mau gosto
e o bom se acasalaram, catrapuz!
Você acha mesmo bacana esse verniz abóbora
ou tem medo de dizer que é medonho?
E aquele quadro (objeto)? Aquela pantalona?
Aquela poesia? Hem? O quê? Não ouço
a sua voz entre alto-falantes, não distingo
nenhuma voz nos sons vociferantes…
Desculpe, amor, se meu presente
é meio louco e bobo
e superado:
uns lábios em silêncio
(a música mental)
e uns olhos em recesso
(a infinita paisagem)."


Carlos Drummond de Andrade



                                                           (uma rosa cor-de--rosa)


ONDE FALHEI?




(Fabrício Carpinejar)



Quando você se separa, faz uma reconstituição dos últimos momentos do relacionamento. Busca descobrir o que aconteceu de errado, o estopim do abandono, o que provocou a saída da até então inseparável companhia. Algumas hipóteses:

— Não deveria ter vencido seu pai no pinogol.

— Não deveria ter quebrado o LP de Ritchie.

— Não deveria ter dado seu presente de aniversário um mês antes.


— Não deveria ter criticado a bagunça de seu carro.

— Não deveria ter retirado mais um rótulo do pote de requeijão. Era o décimo e oitavo copo consecutivo.

— Não deveria pegar seu colete emprestado para aparecer na televisão.

— Não deveria ter lavado a louça na frente de suas colegas.

— Não deveria ter contado minha fantasia sexual com Gina dos palitos de dente.

— Não deveria ter perguntado como foi a consulta com o dentista.

— Não deveria ter estacionado cinco quadras longe do restaurante.

— Deveria ter dito que gostava do UFC.

— Deveria ter devorado um prato cheio de rúcula e agrião para assustá-la.

— Deveria ter roubado seu protetor de ouvido na hora de dormir – sem o ronco, ela perdeu sua referência amorosa.

— Deveria ter mandado apenas seis e-mails por dia.

— Deveria ter dados motivos para que me matasse mentalmente.

— Deveria ter questionado sua adoração por Brigitte Bardot e cílios postiços.

— Deveria ter estranhado sua paixão súbita por teatro gaúcho.

— Deveria tê-la acompanhado para assistir a pré-estreia de Mercenários 2.

— Deveria ter jogado fora sua coleção de CDs do Serge Gainsbourg.

— Deveria ter lido "Sei que vou sair dessa" escondido no banheiro.

Se você não conseguiu rir, está realmente paranoico. Desculpe informar, mas não somos o centro do mundo. E ela nem está pensando em mim e nunca verá essa brincadeira."