Que horas são?

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

                                                                       (en)canto





LEVEZA



"Leve é o pássaro:
e a sua sombra voante,
mais leve.

E a cascata aérea
de sua garganta,
mais leve.

E o que lembra, ouvindo-se
deslizar seu canto,
mais leve.

E o desejo rápido
desse mais antigo instante,
mais leve.

E a fuga invisível
do amargo passante,
mais leve."



Cecília Meireles



quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

VÊNUS

                                                   (tentando apre(e)nder)
                                                       





Por que quando não sabemos dizer, a poesia nos salva. 




VÊNUS



"Quando a sua voz me falou: vamos

Eu vi deus sentado em seu trono: vênus
A religião que nós dois inventamos
Merece um definitivo talvez... pelo menos

Perceba que o que me configura
É sempre essa beleza
Que jorra do seu jeito de olhar
Do seu jeito de dar amor
Me dar amor

Não te dei nada que seja impuro
No futuro também vai ser assim
Se hoje amanheceu um dia escuro
Foi porque capturei o sol pra mim


Perceba que o que nos configura
É sempre essa beleza
Que jorra do nosso jeito de olhar
Nosso jeito de dar amor
Nos dar amor

Não falo do amor romântico,
Aquelas paixões meladas de tristeza e sofrimento.
Relações de dependência e submissão, paixões tristes.
Algumas pessoas confundem isso com amor.
Chamam de amor esse querer escravo,
E pensam que o amor é alguma coisa
Que pode ser definida, explicada, entendida, julgada.
Pensam que o amor já estava pronto, formatado, inteiro,
Antes de ser experimentado.
Mas é exatamente o oposto, para mim, que o amor manifesta.
A virtude do amor é sua capacidade potencial de ser construído, inventado e modificado.
O amor está em movimento eterno, em velocidade infinita.
O amor é um móbile.
Como fotografá-lo?
Como percebê-lo?
Como se deixar sê-lo?
E como impedir que a imagem sedentária e cansada do amor não nos domine?
Minha resposta? O amor é o desconhecido.
Mesmo depois de uma vida inteira de amores,
O amor será sempre o desconhecido,
A força luminosa que ao mesmo tempo cega e nos dá uma nova visão.
A imagem que eu tenho do amor é a de um ser em mutação.
O amor quer ser interferido, quer ser violado,
Quer ser transformado a cada instante.

A vida do amor depende dessa interferência.
A morte do amor é quando, diante do seu labirinto,
Decidimos caminhar pela estrada reta.
Ele nos oferece seus oceanos de mares revoltos e profundos,
E nós preferimos o leito de um rio, com início, meio e fim.
Não, não podemos subestimar o amor e não podemos castrá-lo.

O amor não é orgânico.
Não é meu coração que sente o amor.
É a minha alma que o saboreia.
Não é no meu sangue que ele ferve.
O amor faz sua fogueira dionisíaca no meu espírito.
Sua força se mistura com a minha
E nossas pequenas fagulhas ecoam pelo céu
Como se fossem novas estrelas recém-nascidas.
O amor brilha.
Como uma aurora colorida e misteriosa,
Como um crepúsculo inundado de beleza e despedida,
O amor grita seu silêncio e nos dá sua música.
Nós dançamos sua felicidade em delírio
Porque somos o alimento preferido do amor,
Se estivermos também a devorá-lo.

O amor, eu não conheço.
E é exatamente por isso que o desejo e me jogo do seu abismo,
Me aventurando ao seu encontro.
A vida só existe quando o amor a navega.
Morrer de amor é a substância de que a vida é feita.
Ou melhor, só se vive no amor.
E a língua do amor é a língua que eu falo e escuto."




Paulinho Moska




      




segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

A HORA DA ESTRELA


Dez de dezembro de 1920. Nascia, na Ucrânia, Haia Pinkhasovna  Lispector, a nossa Clarice Lispector. Veio para o Brasil aos dois meses de idade e considerava-se brasileira: "Naquela terra eu literalmente nunca pisei: fui carregada de colo" .







Sou uma iniciada na literatura de Clarice, saboreio seus livros como ritual de passagem, com a escuta das entrelinhas que me acompanham quando fecho o livro. 

Hoje ela completaria 92 anos e sua obra é atemporal e definitiva.

Para comemorar seu aniversário um trechinho de um texto seu:





                                                                   (tempo bom...)




Que as noites sejam travessias serenas para as manhãs de recomeços...porque o Tempo passa, escorre, flui.   Sem pausas. Tic...tac...tic...tac...




"Todos os dias quando acordo

Não tenho mais

O tempo que passou

Mas tenho muito tempo

Temos todo o tempo do mundo..




Todos os dias

Antes de dormir

Lembro e esqueço

Como foi o dia

Sempre em frente

Não temos tempo a perder.(...)"




(trecho da música TEMPO PERDIDO, Legião Urbana)



domingo, 9 de dezembro de 2012





Sou tão desapegada dos cuidados de beleza que não uso quase nada de maquiagem. Por pura indisciplina!  Ontem fui ao salão e a Juliana, que me atendeu, fez uma maquiagem levinha e gostei do resultado. Minhas amigas vivem falando que um rímel faz a diferença, que um batom dá uma cor, que é bom realçar os olhos e todas estas coisas. Nunca lembro, quando me dou conta já saí, ao natural, no máximo com um batom nude e perfume, este sim, fundamental, pra mim.

Ana Lúcia, minha amiga querida, aprovou a ideia e o resultado e postou lá no meu perfil do Facebook, trecho de uma crônica do Xico Sá - um homem que compreende a alma feminina:



"(...)E o momento da maquiagem, Marina, morena? Passo mal ao espiar ao longe. Sim, nada de acreditar nessa historinha de “você já é bonita com o que Deus lhe deu!”

Dorival Caymmi, saravá meu pai!, é uma beleza de homem, mas pinte esse rosto que eu gosto e que é só seu. Com todos aqueles lápis que lhe fazem uma criança brincando de colorir o desejo.(...)"

clique aqui para ler a crônica



Adorei o presentinho da Ana, pelas palavras do Xico. Fiquei inspirada e pensando que nunca é tarde para mudar os hábitos. Vou começar colorindo a Vida.



Blog da Juliana Bassani   (que também me deixou inspirada e é uma querida!)



                                



"...Que minha solidão me sirva de companhia.

que eu tenha a coragem de me enfrentar.

que eu saiba ficar com o nada

e mesmo assim me sentir

como se estivesse plena de tudo."



Clarice Lispector