Que horas são?

sábado, 5 de novembro de 2011


                 OS  SORRISOS  DE  VERÍSSIMO


Hoje à tarde, na Feira do Livro, tudo ficou mais iluminado. Luís Fernando Veríssimo autografou seu livro de contos.
Olhei a fila que se formava e desisti. Havia pessoas esperando há mais de duas horas antes de ele chegar. Foi então que tive a ideia de ficar observando o escritor e seus leitores. Um dos raros momentos da minha vida. Inesquecível!

Veríssimo é a timidez em pessoa, homem simples, quase não fala, quase não sorri. O leitor se aproxima com o livro, ele ensaia um sorriso, autografa e responde educadamente às perguntas. Poderíamos pensar até que estamos diante de um escritor iniciante, que ainda não se sente à vontade diante de tanta gente.

É exatamente esta simplicidade que encanta a todos. Não há estrelismo, nem arrogância...só simplicidade. Não demonstra cansaço, apesar de notar que ainda há mais de quinhentas pessoas na fila, (até onde me informei...)

Fiquei quase uma hora ali, parada, fotografando, observando, celebrando o fato de que é um privilégio poder encontrar alguém tão especial, que escreve de forma genial.
 
Pacienciosamente, atendeu cada um dos que ali estavam, vez por outra falou com Lúcia, sua mulher. A presença dela parece dar segurança a ele. Ela ficou ali, ao meu lado e vendo que eu fotografava, comentou uma das fotos que fiz dos dois. Eu respondi que achei aquela, uma foto feliz. Cumplicidades de casal. Havia amparo amoroso ali.

Fiz muitas fotos, quis registrar cada movimento dele, uma necessidade de guardar aquele momento. 

Aos poucos, fui percebendo que ele estava preenchido, alegre e feliz. Sorriu muitas vezes. Foi quando compreendi que Veríssimo é assim: econômico nas manifestações, nos sorrisos, na alegrias que transbordam, mas extremamente generoso quando escreve e compartilha com as pessoas, seus contos, poesias, crônicas e histórias que nos tornam fãs absolutos  das suas letras.
Hoje à tarde Veríssimo sorriu e plantou sorrisos. Uma lição de generosidade, elegância e, acima de tudo, de simplicidade.
Saí de lá feliz, testemunhei os sorrisos de Veríssimo.








quarta-feira, 2 de novembro de 2011



 
"...Que minha solidão me sirva de companhia.

que eu tenha a coragem de me enfrentar.

que eu saiba ficar com o nada

e mesmo assim me sentir

como se estivesse plena de tudo."

                                                 Clarice Lispector






Um novo ano pessoal que começa com o aniversário. Alquimia que forja em mim uma força diferente. Transmutar os sonhos, lustrar as esperanças, aquarelar os dias.

Um ciclo se cumpriu. Já foi. Não posso mudar o que ficou para trás, fiz o que poderia ter feito naquele momento específico. Neste novo giro da Vida ganho a oportunidade de fazer tudo diferente, melhorar cada atitude, amenizar cada palavra, fortalecer os vínculos que elegi.


No caminho, boas partilhas, afetos importantes, paisagens desenhadas... Que a plenitude me alcance, que a maturidade me acalme e o amor me ensine a compartilhar sempre. E que eu saiba valorizar e retribuir todo o carinho e a atenção que recebi ontem.


 

domingo, 30 de outubro de 2011





A    BOCA                  


                                  Eugênio de Andrade


A boca,
onde o fogo
de um verão
muito antigo
cintila.
O que pode uma boca
esperar
senão outra boca?





E por que hoje é domingo, sabiás me visitam e Bobby Mcferrin  canta  "DON'T WORRY BE HAPPY!!", me permito divagações descompromissadas sobre a vida. Lembrei dos amores de verão e da sua real dimensão na vida de cada um de nós. Por que nomeamos "amores de verão"? Terminam todos com a estação? Há os que se prolongam pelo resto do ano e, quem sabe, anos a fio? Há os que nem amores foram, senão atração e paixão?
De que forma eles nos voltam à lembrança durante a vida?  Ficamos felizes, alegres, ou melancólicos e tristes?

Imaginemos a seguinte situação: um verão, anos 80, ele um deus grego absurdamente lindo e atraente, ela uma menina, esplendorosamente menina. Cenário: praia, sol, areia e mar.
Ele, jovem, mas bem mais velho do que ela. Quando seus olhares se cruzaram, tudo passou a ser movido a adrenalina e desejo. Lindas tardes de amor, horas intermináveis de prazer e, então, o veraneio chega ao fim. É preciso retomar a Vida e suas rotinas. O casal se separa, encontram-se mais algumas vezes, mas, infelizmente, o relacionamento chega ao fim.
Ele, carinhoso, cuidadoso e gentil, a encantava vez ou outra com seus recados e presentinhos. Ela o guardava no lugar mais especial de sua memória afetiva.
Voltemos para 2011. Eles se reencontram virtualmente e vêem que alguma coisa ficou inacabada, palavras não foram ditas, desejos não foram satisfeitos. E tudo pulsa novamente...e o coração acelera. O encontro é o próximo passo.


É uma situação inventada esta, mas poderia ser a história de qualquer um de nós que teve um bom amor no passado. Amor, por si só, se basta, não carece de rótulos, nomes, limites. Bastaria dizer que foi um amor e diríamos tudo a respeito, mas há em nós uma necessidade latente de nomear o que só precisaria ser sentido. Pensemos nos amores que deixamos pelo caminho, nos que retornaram e foram bons, nos que reencontramos e nos causaram decepção e dor. Naqueles que nos deixaram lembranças inesquecíveis e que pela sua beleza iluminam cada cantinho da nossa memória.
É um convite à reflexão sobre como tratamos nossos afetos passados, onde os guardamos depois que terminam, quais efeitos têm e ainda terão sobre nós ao longo da vida, mas acima de tudo, para que pensemos carinhosamente sobre como cuidamos do amor que temos agora.
Só porque hoje é domingo e as horas passam mais devagar...
Bom domingo!