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sábado, 2 de novembro de 2013

Frida e Diego

"O abraço amoroso do universo a Terra (México), Diego, eu e Señor Xolotl"



Carta da Frida para Diego:



Meu Diego:

Espelho da noite.


"Seus olhos verdes de espada dentro da minha carne. Ondas entre nossas mãos. Você todo no espaço cheio de sons – na sombra e na luz. Você será chamado de AUXOCROMO – o que atrai a cor. Eu, CROMÓFORO – o que dá a cor. Você é todas as combinações de números. vida. Meu desejo é entender linha forma movimento. Você preenche e recebe. Sua palavra cruza todo o espaço  alcança minhas células que são minhas estrelas de muitos anos retidas em nosso corpo. Palavras encadeadas que não poderíamos dizer exceto nos lábios do sono. Tudo estava cercado pelo milagre vegetal da paisagem do seu corpo. Sobre sua forma, ao meu toque os cílios das flores, os sons dos rios respondem. Todas as frutas estavam no suco de seus lábios, o sangue da romã…do sapoti e do puro abacaxi. Apertei você contra meu seio e o prodígio de sua forma penetrou meu sangue através das pontas dos meus dedos. O odor da essência do carvalho, a memória da noz, do hálito verde da cinza. Horizontes e paisagens – que atravessei com um beijo. Um esquecimento de palavras formará o idioma exato para entender os olhares de relance de seus olhos fechados.

Você está presente, intangível, e você é todo o universo que eu formo no espaço do meu quarto. Sua ausência jorra tremor no som do relógio, na pulsação da luz; seu hálito através do espelho. De você até minhas mãos eu percorro todo o seu corpo, e estou com você num minuto e estou com você num momento, e meu sangue é o milagre que viaja nas veias do ar do meu coração para o seu."

(A MULHER)












(O HOMEM)



"O milagre vegetal da paisagem do meu corpo está em você a natureza toda. Eu a atravesso em um voo que com meus dedos acaricia as colinas arredondadas…os vales, envolve-me a ânsia pela posse e pelo abraço dos galhos macios, meu corpo tudo parece o frescor de folhas tenras. O orvalho é suor de um amante sempre novo. Não é amor, nem ternura, nem afeto, é a vida em sua plenitude, a minha, que encontrei quando a vi em suas mãos, em sua boca, em seus seios. Na minha boca eu sinto o gosto de amêndoa de seus lábios. Nossas palavras jamais saíram. Somente uma montanha conhece as entranhas de outra montanha. Às vezes sua presença flutua continuamente, como se envolvesse todo o meu ser numa espera ansiosa pela manhã. Percebo isso quando estou com você. Nesse momento de quietude ainda pleno de sensações, minhas mãos estão mergulhadas em laranjas, e meu corpo se sente rodeado por você."


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