Que horas são?

domingo, 26 de maio de 2013



                              RUI   ZINK


                                 (Patrícia Reis, Lídia Jorge, Inês Pedrosa, RUI ZINK)


O Amor Nunca Salva, mas alguém Tem uma Ideia Melhor?


"Descobri, um pouco tarde, que afinal todos os meus livros são histórias de amor. Só que as daninhas estavam tão bem disfarçadas que eu próprio não tinha reparado. Às vezes, amo entre duas pessoas, outras de amor entre uma pessoa e uma ideia. Idalina enamora-se por «uma dança sem música». Sam Espinosa apaixona-se por uma mulher uns anitos mais velha (duzentos, coisa pouca), Greg quase é salvo da perdição por uma sósia de Angelina Jolie. O amor está no ar e também, como diria um poeta, o amor está no mar. O amor não salva, nunca salva, mas alguém tem uma ideia melhor? 
Tão sensacional descoberta levou-me a cogitar no seguinte: e qual será a melhor forma de amar? Carente de modelos reais na vida humana, decidi procurá-los na natureza. Com a ajuda da televisão, claro, Canal Odisseia, National Geographic, Canal Panda, essas coisas. Pode-se lá chegar à natureza, nos dias que correm, senão pela televisão! Três rolos modelos logo me saltaram à vista: o Amor do Louva-a-deus; o Amor do Cisne; o Amor do Urso Polar. 
Após alguma esmiuçação, concluí que qualquer um me parece bem, e tem as suas vantagens e desvantagens. 
No romance do louva-a-deus, a fêmea devora o macho depois da cópula. É natural, toda a gente sabe que a gravidez estimula o apetite. E seria bem pior se ela o devorasse antes da consumação. 
O cisne acasala para a vida. É bonito. Lembra certos parzinhos que encontramos sobretudo na noite boémia, muito perfeitos, muito encapsulados, o mundo é deles, o mundo são eles. Gosto, mas como nunca experimentei sinto-me sempre um bocadinho do outro lado da vitrina, a definhar de inveja. 
Pronto, confesso. O que, esse sim, me toca profundamente é o amor do urso polar. É esquivo, dura pouco – pelo menos a parte do encontro. Urso polar e ursa polar namoram e acasalam brevemente, e logo se apartam, cada um para seu lado, para todo o sempre, a fêmea talvez com uma cria, o macho continuando a sua caminhada, glaciares fora, de nenhures em direcção a nenhures. 
Vai solitário e triste, o nosso urso? Talvez. Eu gosto de pensar que vai de coração cheio, e que a brevidade do encontro é compensada pela intensidade da memória. Tanto quanto sei, não há ursos com Alzheimer." 




Rui Zink, in "O Amante é Sempre o Último a Saber"

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RUI ZINK é daquelas pessoas que queremos ficar ouvindo por horas. É divertido, sarcástico,envolvente com a palavra. Durante o encontro de escritores portugueses que aconteceu no IEL - Instituto Estadual do Livro do RS,leu textos de um dos seus livros "A Instalação do Medo", contou-nos sobre seu processo de escrita e, ainda partilhou conosco um poema que fez aqui no Brasil,no carro que os transportava para o aeroporto, em meio a um trânsito que o fazia pensar não chegariam a tempo para embarcar para Porto Alegre. Um poema divertido! 
Infelizmente, não filmei como deveria, mas os vídeos que posto aqui são para mostrar um tantinho daqueles momentos no IEL.


(sobre o poema feito sob a angústia de não chegar a tempo para o voo)



(aqui o finalzinho da leitura de um trecho do seu livro "A Instalação do Medo".Com Inês Pedrosa)


  




(com José Luís Peixoto)
               



 
                        
                     (as anotações)




               
                      (Rui Zink e eu )




                
                    ( o meu autógrafo )



                      

                  (a leitora e o autor)
                



 Rui Zink para ouvir e apr(e)ender

                                           




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