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quinta-feira, 10 de novembro de 2011





Há algum tempo vi esta foto em uma revista e fiquei profundamente impactada com a força da imagem. Cheia de significados! Busquei mais informações e soube que fazia parte de uma série de fotografias de Phillip Toledano.

Phillip Toledano, fotógrafo, nasceu em Londres de uma mãe marroquina francesa e um pai norte-americano. Em 2006 sua mãe morreu e ele se viu às voltas com os cuidados com o pai de noventa e sete anos que tinha sérios problemas de memória recente, ainda que não tivesse diagnóstico de Alzheimer, não retinha as informações. Apesar de reiteradas vezes contar ao pai do falecimento da mãe e de tê-lo levado ao funeral, ele voltava a fazer as mesmas perguntas. Decidiu, então, dizer que a mãe fora para Paris cuidar do irmão.

A partir daí, o que temos, é um relato emocionante dos dias de convivência com seu pai. Toledano e sua mulher cuidaram dele até a sua morte. Reaprendeu a relação com o pai, descobriu nuances de sua personalidade que nunca tinha notado, viu ali um homem engraçado, inteligente. Em algum momento perguntou se ele sabia que idade tinha, e o pai respondeu; "Vinte e dois e meio?". Intimidade que se revelou como aprendizado pra quem pouco conviveu com o pai nos últimos dez anos.

Busco aprendizado nas coisas, nos fatos, nas leituras e, esta história, em especial, me fez refletir muito sobre as relações entre pais e filhos.
Como temos tratado nossos pais? Como nossos filhos nos tratam? Como será quando, velhinhos precisarmos de atenção, carinho e muito cuidado? Teremos dispensado tudo isto aos nossos pais? E falo de CUIDADO, não só de presentes e presenças obrigatórias nas datas. Refiro-me à respeito, compreensão com as limitações que o tempo impõe, lembrar da importância deles nas nossas vidas como início de tudo. Ter paciência com os ritmos que destoam dos nossos, reconhecê-los como origem de tudo o que recebemos. Ver em seus olhos, o espelho de nossas vidas e do nosso futuro.

Na intimidade com nossos filhos, temos ensinado isto a eles?  Acredito no valor absoluto do respeito como gerador de boas relações. Educar é carpintaria diária. Pede esforço, atenção, dedicação e cuidado. Os mesmos verbos que queremos que eles conjuguem quando a velhice nos encontrar.
 
Não falo de cobranças, de apresentar contas altíssimas aos filhos, que, certamente, nunca conseguirão pagar. Quem não conhece alguém que passa a vida dizendo ao filho: "Não fiz faculdade, porque engravidei de ti!" ou "Não me separei porque tinha filhos e fui infeliz!". Absurdamente cruel, afinal como pagar uma conta assim? E a  única herança que fica, neste caso, é uma culpa enorme, pesada e devastadora.
 
Refiro-me aqui à plantação. Boas sementes, cultivo diário, adubação, olhar generoso e amor sem medida. Quem sabe assim, daqui a alguns anos, colheremos bons frutos: presença amiga, amorosidade, abraços que protegem, mãos que nos conduzam, cuidados e overdoses de amor.

O pai de Phillip Toledano faleceu aos noventa e nove anos sob o olhar emocionado do filho e da nora. 
Phillip usou a fotografia para falar dos últimos tempos do pai, mas vê-se ali um relato sobre si mesmo. Ampararam-se os dois nas suas fragilidades.

Que possamos fortalecer os vínculos com nossos pais e nossos filhos, pra que só os bons frutos germinem. Plantar é fácil, cultivar exige...





 






Um comentário:

  1. A qualquer época, a mínima possibilidade de se resgatar o vínculo fraterno, emociona.
    Imaginei poder cuidar do meu pai com o mesmo carinho e cuidado que ele cuidou da minha avó.
    Acho que meu destino é o asilo.

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